Talvez inspirado pelos conflito interno no PS o seu
secretário-geral achou que estaria na hora de fazer oposição ao seu velho amigo
de diatribes infantis. Para justificar a sua inércia durante todo este tempo e
o seu silêncio ao longo de seis avaliações da troika José Seguro encontrou um
argumento digno da sua grande inteligência, que agora era a vez dos políticos.
Enfim, ao sétimo dia Deus descansou e à sétima avaliação Seguro parou de
descansar.
A crer neste argumento de Seguro as restantes avaliações
eram um problema de técnicos, isto é a opção brutal pelo mais troikismo do que
a troika, a contracção forçado do consumo para destruir as empresas mais débeis,
a sugestão de emigração feita aos jovens, o corte de 30% do rendimento de funcionários
públicos e pensionistas, a facilitação dos despedimentos, tudo isso não resulta
de opções políticas, são questões técnicas e por isso Seguro esteve todo este
tempo calado.
O que Seguro fez até agora foi concordar implicitamente com
as políticas extremistas do governo mas ficou cinicamente em silêncio, no fundo
em vez de fazer oposição a Passos Coelho continuou a fazer oposição a Sócrates,
ao apoiar tacitamente as políticas de Passos Coelho o líder do PS fazia passar
a mensagem de que eram uma inevitabilidade e se eram inevitáveis isso seria uma
consequência do governo do seu antecessor.
Isto é, a estratégia de José Seguro ao longo de todos estes
meses passa pela concordância de princípio com as políticas do governo no
pressuposto de que penalizam a imagem de Sócrates e de Passos Coelho e isso
favorece-o quer no plano interno do PS, quer no plano nacional. O que fez
Seguro a propósito do famoso desvio colossal que Gaspar atribuiu ao governo
anterior e com base no qual cortou os subsídios aos funcionários públicos?
Limitou-se a dizer que bastava cortar um subsídio, isto é aceitou a
responsabilidade política do seu antecessor e agora que o governo quer tornar
definitiva a medida o líder do PS reafirma a sua concordância ficando em
silêncio.
Para os portugueses a política económica brutal a que o país
está sendo sujeito significa miséria, desemprego, doença e pobreza, mas esses
não são os problemas de Seguro, o líder do PS não perdeu qualidade de vida,
continua a viajar em carros de luxo, o seu gabinete é aquecido com antecedência
e nada lhe falta. Para Seguro esta política é ouro sobre azul, no fundo o líder
do PS e alguns dos seus gurus liberais concordam com as política de Passos
Coelho e agrada-lhes a ideia de ser o PSD a fazer o trabalho sujo, dessa forma
queimam o fantasma de Sócrates, que aprece continuar a atormenta-los, e ganham
vantagem nas várias eleições.
O problema desta estratégia manhosa é que torna Seguro num
segundo Passos Coelho e os portugueses começam a percebê-lo, o líder do PS
ainda não se opôs frontalmente a nenhuma medida e ainda recentemente um dos
seus braços direitos ainda completou o relatório encomendado ao FMI com uma
medida que a extrema-direita se tinha esquecido, a destruição da ADSE.
Quando Seguro diz que chegou a vez dos políticos significa
que no seu cinismo está na hora de se começar a incomodar com as políticas
governamentais. Chega tarde, a esta hora centenas de milhares de portugueses
estão desempregados, muitos jovens foram empurrados para fora do país, muita
gente passou fome e são muitos os que estão à beira de serem despejados das
suas casas. Seguro não parece ter grande consideração pelos portugueses e não
percebe que até em política há limites para o cinismo e para o oportunismo.