segunda-feira, fevereiro 18, 2013

A vez dos políticos


Talvez inspirado pelos conflito interno no PS o seu secretário-geral achou que estaria na hora de fazer oposição ao seu velho amigo de diatribes infantis. Para justificar a sua inércia durante todo este tempo e o seu silêncio ao longo de seis avaliações da troika José Seguro encontrou um argumento digno da sua grande inteligência, que agora era a vez dos políticos. Enfim, ao sétimo dia Deus descansou e à sétima avaliação Seguro parou de descansar.
  
A crer neste argumento de Seguro as restantes avaliações eram um problema de técnicos, isto é a opção brutal pelo mais troikismo do que a troika, a contracção forçado do consumo para destruir as empresas mais débeis, a sugestão de emigração feita aos jovens, o corte de 30% do rendimento de funcionários públicos e pensionistas, a facilitação dos despedimentos, tudo isso não resulta de opções políticas, são questões técnicas e por isso Seguro esteve todo este tempo calado.

O que Seguro fez até agora foi concordar implicitamente com as políticas extremistas do governo mas ficou cinicamente em silêncio, no fundo em vez de fazer oposição a Passos Coelho continuou a fazer oposição a Sócrates, ao apoiar tacitamente as políticas de Passos Coelho o líder do PS fazia passar a mensagem de que eram uma inevitabilidade e se eram inevitáveis isso seria uma consequência do governo do seu antecessor.

Isto é, a estratégia de José Seguro ao longo de todos estes meses passa pela concordância de princípio com as políticas do governo no pressuposto de que penalizam a imagem de Sócrates e de Passos Coelho e isso favorece-o quer no plano interno do PS, quer no plano nacional. O que fez Seguro a propósito do famoso desvio colossal que Gaspar atribuiu ao governo anterior e com base no qual cortou os subsídios aos funcionários públicos? Limitou-se a dizer que bastava cortar um subsídio, isto é aceitou a responsabilidade política do seu antecessor e agora que o governo quer tornar definitiva a medida o líder do PS reafirma a sua concordância ficando em silêncio.

Para os portugueses a política económica brutal a que o país está sendo sujeito significa miséria, desemprego, doença e pobreza, mas esses não são os problemas de Seguro, o líder do PS não perdeu qualidade de vida, continua a viajar em carros de luxo, o seu gabinete é aquecido com antecedência e nada lhe falta. Para Seguro esta política é ouro sobre azul, no fundo o líder do PS e alguns dos seus gurus liberais concordam com as política de Passos Coelho e agrada-lhes a ideia de ser o PSD a fazer o trabalho sujo, dessa forma queimam o fantasma de Sócrates, que aprece continuar a atormenta-los, e ganham vantagem nas várias eleições.

O problema desta estratégia manhosa é que torna Seguro num segundo Passos Coelho e os portugueses começam a percebê-lo, o líder do PS ainda não se opôs frontalmente a nenhuma medida e ainda recentemente um dos seus braços direitos ainda completou o relatório encomendado ao FMI com uma medida que a extrema-direita se tinha esquecido, a destruição da ADSE.

Quando Seguro diz que chegou a vez dos políticos significa que no seu cinismo está na hora de se começar a incomodar com as políticas governamentais. Chega tarde, a esta hora centenas de milhares de portugueses estão desempregados, muitos jovens foram empurrados para fora do país, muita gente passou fome e são muitos os que estão à beira de serem despejados das suas casas. Seguro não parece ter grande consideração pelos portugueses e não percebe que até em política há limites para o cinismo e para o oportunismo.