terça-feira, fevereiro 09, 2016

Há crescimento para lá do orçamento



Em Portugal criou-se a ideia de que o problemática do crescimento deve estar centrado na questão orçamental, como se tudo dependesse deste instrumento. À direita considera-se que a boa despesa é a que faz encomendas às empresas ou a despesa negativa que resulta dos benefícios fiscais aos lucros e rendimentos dos mais ricos. Para a esquerda a boa despesa é a que é feita em benefícios sociais, em saúde e educação ou no bem-estar dos trabalhadores. 
  
Este preconceitos políticos leva  a que se considere que determinadas políticas são de esquerda e outras de direita. De direita é reduzir a despesa, cortar em vencimentos de trabalhadores, desinvestir na saúde e escolas públicas, aumentar os impostos sobre o trabalho e diminuir os impostos sobre os lucros, para a direita esta receita milagrosa trás progresso. Para a esquerda défices elevados significam aposta em crescimento, a eficácia do estado deve medir-se pela felicidade dos funcionários e para sectores como a saúde e o ensino os recursos devem ser considerados ilimitados. 
  
Não admira que desde o presidente da Galp ao dono do grupo holandês Jerónimo Martins, todos se esforcem por influenciar as decisões em matéria de política orçamental. A bem do país a gasolina deve ser barata pois há uma coincidência entre crescimento e lucros da GALP. Cada grupo de pressão considera que o sucesso dos seus é condição para o crescimento. Do lado da esquerda vemos os professores defenderem que quanto maior for o seu bem-estar mais aprendem os alunos.
  
Daqui resulta uma cultura de orçamento-dependência, todas as soluções que não se traduzam em despesa pública não merecem grande atenção pois o motor do crescimento está nos dinheiros públicos. Para uns a economia cresce se os patrões forem felizes, para os outros o crescimento é uma emanação da felicidade dos trabalhadores. Não admira que quando se discutem temas como a competitividade o debate volte a centrar.se no dinheiro do Estado.
  
Todavia, o país pode modernizar-se e apostar na competitividade e no crescimento sem gastar um tostão. Bastaria que as centenas de personalidades da política ou dos mais diversos quadrantes da vida social deixassem de gastar quase todas as energias com os dinheiros públicos para que se encontrassem uma infinidade de situações que poderiam melhorar o país e a sua economia sem gastar um tostão. O país tem um grande défice de modernização ao nível da cultura das organizações e desse “buraco” ninguém fala, provavelmente porque não dá dinheiro.

A competitividade é também penalizada pela ineficácia na gestão, pela burocracia do estado e das empresas, pelos mecanismos dos mais diversos tipos que impedem a escolha das melhores soluções ou a promoção dos mais honestos e competentes. Mas este crescimento não dá “dinheiro fácil” e muitos grupos corporativos não estão interessados em discuti-lo.