domingo, fevereiro 28, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura


  
 Jumento do dia
    
António Costa, primeiro-ministro

Ao receber o sindicato dos bancários numa reunião que foi omitida da agenda do primeiro-ministro, António Costa abriu um precedente com consequências. Desde logo porque a partir de agora a agenda do primeiro-ministro vale o que vale, perante outras situações nunca se saberá com quem se reúne o primeiro-ministro.
 
Ao receber os sindicalistas para discutir o futuro de um banco que não é público, o primeiro-ministro abre a porta para igual procedimento em relação a qualquer empresa, pública ou privada. E ao receber a UGT para discutir o futuro de um banco não terá outro remédio senão receber a CGTP para debates do mesmo género sempre que o futuro de alguma empresa suscite dúvidas.

«António Costa recebeu, ontem, em São Bento, o líder da UGT e dirigentes dos três principais sindicatos do sector bancário para analisar o futuro do Novo Banco, que esta semana anunciou o despedimento de mais 500 trabalhadores daquela instituição. O encontro, que durou quase uma hora e meia, não fazia parte da agenda pública do primeiro-ministro. Mas, confrontado pelo Expresso, Carlos Silva “não desmentiu” a reunião, onde, estiveram também presentes o ministro e o secretário de Estado das Finanças.

Na ocasião, o Governo terá deixado garantias claras de que está a fazer contactos a vários níveis para garantir uma solução para o Novo Banco. Em cima da mesa está a possibilidade de venda do ativo, mas, caso essa hipótese não permita um encaixe para o Estado equivalente ao valor do fundo de resolução criado para este fim, o Governo admite também a possibilidade de integração do Novo Banco na Caixa Geral de Depósitos, no Millennium BCP ou ainda no BPI. O dossiê deverá estar fechado até agosto deste ano e pretende manter a CGD na esfera do Estado e a propriedade do Novo Banco sob administração portuguesa.


Os sindicatos defendem uma solução para o Novo Banco semelhante à encontrada para o BCP, que evitou “os despedimentos coletivos”, substituindo-os por um acordo de empresa que implicou uma redução gradual dos quadros ao longo de quatro anos. No Novo Banco estão “6 mil postos de trabalho em causa”, sublinhou Carlos Silva, que acrescentou ter já sido agendada para a próxima semana uma reunião com a administração do banco e os representantes sindicais.» [Expresso]

 O BE tem duas mães

Graças ao excesso de excitação em que tem vivido Catarina Martins cometeu um erro grave com um cartaz idiota com que pretendia ficar com os louros de uma de muitas votações parlamentares. Só que o erro foi grave e Marisa Matias não teve dúvidas em dizê-lo. Agora o BE tem definitivamente duas mães a que obedecer, Catarina Martins e Marisa Matias, resta saber qual das duas vai fazer o papel de chefe de família.

      
 Há uma certa tristeza nisto tudo
   
«Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. O país conhece um ritmo depressivo quotidiano. De vez em quando, há um crime hediondo. Uma mãe mata as filhas. De vez em quando, é preso alguém importante e respeitável. Um procurador. De vez em quando, há um pequeno sobressalto porque alguém quer pôr árvores a servir de separadores de uma estrada. De vez em quando, há um pequeno sobressalto porque alguém quer deitar abaixo umas árvores. De vez em quando, há uma jovem actriz de telenovelas que tem cancro e, como não sabe viver fora dos holofotes, leva o seu cancro a tudo quanto é capa. As melhoras. De vez em quando, há mais um caso de violência doméstica. De vez em quando, um pescador ou um operário ou um desempregado que arredonda o seu orçamento apanhando bivalves no Tejo morre afogado. De vez em quando.

Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. Quase sempre, a todas as horas, há futebol. Discute-se antes, durante, depois. Os canais noticiosos, que deviam acrescentar-se aos canais desportivos, são tanto ou mais desportivos e cada vez menos noticiosos. Se um começa um painel sobre futebol, nenhum outro se atreve a fazer qualquer outra coisa que não seja outro painel sobre futebol. Nada mobiliza mais os portugueses, em particular como espectadores, telespectadores, ouvintes, conversantes, tertulianos e habitantes de mesas de café, do que a bola.

Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. Na política, o país está num impasse, mas parece que não. Como acontece por toda a Europa, a impotência do poder político democrático face ao poder económico castrou governos eleitos e submeteu-os a entidades obscuras como os “mercados”, onde o grosso do dinheiro que circula não tem pai nem mãe, a não ser numa caixa de correios das ilhas Caimão. O sistema político democrático, a representação partidária tradicional, está numa crise que parece não ter saída. Os partidos do “arco da governação”, ou seja, os que têm o alvará de Bruxelas, do senhor Schauble, da Moody’s e da Fitch, ainda ganham as eleições num ou noutro país, mas ninguém os quer ver a governar outra vez, pelos estragos que fizeram à vida dos homens comuns para salvar a banca, não tendo no fim salvado coisa nenhuma.

Por isso, coligações negativas, com mais ou menos sucesso, surgem em Portugal, na Espanha, na Irlanda, ou fortes partidos radicais, nacionais e populistas, na França, na Grécia, na Polónia, na Hungria. Ou partidos como o Labour reencontram um mundo do “trabalhismo” que se decretara ser arcaico. São tudo partidos muito diferentes, uns à esquerda, outros à direita, mas têm uma coisa em comum: contestam o poder transnacional da União Europeia, e o pensamento único em economia que daí emana por diktat. Uns mais o primeiro, outros mais o segundo. Contestam a promiscuidade que juntou socialistas com partidos do PPE, numa aliança que tornou o “não há alternativa” na ideologia autoritária dos nossos dias.

Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. Temos um Governo único na Europa, sem precedente por cá, sem paralelo por lá. Mas mesmo isso normalizamos, até porque como eles não estão muito entusiasmados com o feito, também não entusiasmam ninguém. O PS, apesar da vaga de insultos, de que se “descaracterizou”, traiu as suas origens, abandonou o papel de resistente ao PREC, “radicalizou-se”, é “terceiro-mundista”, etc., etc., é, imagine-se!, o mesmo de sempre. O BE está demasiado contente consigo próprio para olhar bem para o que se está a passar. Dedica-se todos os dias a uma causa nova, uma nova reivindicação, uma nova reclamação, sem sequer dedicar qualquer esforço a consolidar as que fez. Acha que está num momento alto de “luta” quando a luta, séria, dura, árdua, lhe passa ao lado. O PCP sabe que precisa de mudar, mas não sabe como.

Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são. O PSD referve de raiva, como se vê quando Passos Coelho abre a boca. Tornou-se mais revanchista do que o CDS, e não tem outra estratégia que não seja garantir que haja eleições a curto prazo. Já teve melhores condições para as ganhar, hoje cada dia tem menos. A metamorfose “social-democrata” parece a toda a gente como oportunista, a começar pelos neoliberais que Passos reuniu à sua volta, para quem o PSD é um instrumento de acesso ao poder, mas que gostam mais do CDS.» [Público]
   
Autor:

Pacheco Pereira.

      
 Um pequeno incidente, diz o pobre senhor
   
«“Não tem [consequência] nenhuma”, afirma Carlos Costa, em entrevista ao jornal Expresso deste sábado a propósito das críticas do primeiro-ministro dirigidas à sua acção como Governador do Banco de Portugal (BdP).

António Costa lamentou “a forma como a administração do Banco de Portugal tem vindo a arrastar uma decisão” sobre os lesados do BES, dizendo que este está a impedir uma “solução proposta pelo Governo e aceite pela maioria dos lesados do BES”. As críticas ao BdP sucederam-se por parte de dirigentes do PS bem como dos outros partidos de esquerda representados na Assembleia da República.

Questionado acerca da possibilidade de se demitir, Carlos Costa recusa essa hipótese. “Seria curioso que qualquer pequeno incidente determinasse uma perda de vontade de alcançar os objectivos que tenho de prosseguir”, declarou ao semanário, concluindo que isso “seria obviamente atribuir um significado que não tem a uma declaração”.» [Público]
   
Parecer:

Enfim, este senhor tem um grande sentido de humor.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Sorria-se.»