quinta-feira, fevereiro 04, 2016

O orgasmo precoce



A lamber as feridas desde Outubro e com Passos Coelho a declarar a sua fidelidade a uma social-democracia que mais parece uma nacional social-democracia eis que a direita se empertigou e se excitou com a possibilidade de regressar inesperadamente ao poder. Parecíamos recuar às semanas de 2011 que antecederam a o pedido de ajuda internacional.
  
O Observador passou a acompanhar a evolução dos juros nos mercados, as agências de notação passaram a ser solicitadas diariamente pelos jornalistas, os recados anónimos do representante do FMI em Portugal voltaram a chegar aos jornais, até o presidente do BCP voltou a falar de lixo, logo ele que presidente a um banco que cheira mal como uma lixeira.
  
A Cristas empertigou-se, o Morgadinho andou numa roda viva, até o Paulo Portas chegou a pensar na hipótese de ressuscitar e mandar a Cristas comer os restos da última ceia. De repente fazia-se luz, a estratégia de Passos dava resultado, com a direita no poder numa boa parte da Europa, com uma antena do PSD dentro da Comissão Europeia, um Estado cheio de dirigentes escolhidos a dedo e mesmo alguns governantes da sua equipa a regressarem aos serviços para tomarem conta de dossiers da maior importância, com várias armadilhas instaladas em diversos serviços da Administração Pública, o país haveria de lhe ir comer à mão.
  
Esqueceram-se das muitas negociações, talvez porque nesse tempo era o governo que pedia à Troika que exigisse mais austeridades, nem se lembraram de terem falhado todas as previsões de crescimento, ignoraram que em vários exercícios orçamentais tiveram de recorrer ao expediente dos orçamentos rectificativos para corrigirem os falhanços. Festejaram todos os relatórios e opiniões críticas, como se no passado os seus orçamentos tivessem sido obras-primas do rigor técnico.
A excitação foi tanta que já se festejava a lição que a troika iria dar a um António Costa armado em Tsipras, desejou-se que a Troika tratasse Portugal da mesma forma que Passos Coelho o fez quando participava nos Conselhos Europeus. Para a direita a sua ideologia é uma verdade científica e o regresso a uma semi-escravatura é a únicas solução para um progresso em que o económico está em contradição com o social.
  
A excitação foi tanta que a direita parece ter tido um orgasmo precoce, teve prazer em seco. O próprio Passos, talvez avisado por voz amiga da Comissão, manteve-se longe das câmaras dando o protagonismo ao Morgado e a essa coisa chamada Marco António, afinal os bancos alemães já não têm dinheiro investido na dívida portuguesa, a Europa tem sarna que lhe chegue e há muito que ninguém do PSD é convidado para ir a Berlim.