quarta-feira, fevereiro 17, 2016

Um mar de bondade humana

(imagem do jornal Público)


Há uns tempos atrás acompanhei um caso de uma criança retirada a ma mãe e pelo que li a única razão evidente era a de que essa mãe era pobre. Na ocasião questionei aqui se os pobres já não podem ter filhos. 

O caso veio-me à memória perante uma decisão judicial que retirou sete dos dez filhos a uma mãe, parece que o juízes e demais especialista na gestão da vida do cidadão comum acharam que a mulher tinha filhos de forma descontrolada. Parece que terão colocado a mulher perante uma de duas alternativas, ou laqueava as trompas ou tirava-lhe meia dúzia de filos. Recusou-se à mutilação judicial e lixou-se.
  
Por estes dias tem sido notícia a mãe que poderá saí do mar lá deixando duas crianças, ainda não se conhecem as causas, já se atiram culpas para tudo e todos, mas mais uma vez damos com a presença dessas boas almas que acompanham estes casos, ao que parece o caso era conhecido das autoridades pois tinha sido feita uma queixa por violência doméstica. Como agora se diz o caso estava sinalizado, não se percebe muito bem para que servem estas sinalizações, mas alguém deve saber.

Em tempos o país dividiu-se perante uma criança que tinha sido oferecida numa pastelaria por uma mãe pouco dada a criar filhos a um casal cheio de amor para dar, tanto amor que não avia tribunal ou pai que o impedisse. Desta vez as senhoras da bondade ate estava contra o tribunal que queria cometer o enorme crime de entregar a criança ao pai, ate se juntaram algumas esposas de ex-presidentes na tentativa de entregar a criança aos pais cheios de amor para dar
  
A violência doméstica é uma prática enraizada na nossa cultura e há muitos poucos anos uma mulher que fosse alvo de violência doméstica nem à família se podia queixar pois a resposta era no sentido da paciência, da obediência e do respeito por essa sacrossanta instituição da família. Entretanto o país foi inundado por gente boa, juízes, magistrados, ex-primeiras damas, instituições da economia social, todas empenhadas em espalhar a bondade.
  
Só que a bondade tem regras, burocracias, horários de trabalho, preceitos jurídicos, enfim, como em tudo neste país a bondade emaranha-se na burocracia e nas artimanhas da lei com os resultados que estão à vista. Mulheres assassinadas as dezenas, crianças tiradas dos pobres para serem cuidadas com sopa e canja em instituições, crianças traficadas nas pastelarias, mães a suicidarem por desespero.
 
As televisões aproveitam-se mais uma vez da miséria alheia para conseguirem audiências fáceis com directos miseráveis a partir de Oeiras, entrevistas a psicólogos das diversas especialidades ou fóruns onde a populaça opina sobre se a culpa foi da mulher ou do ex-marido. Cá por mim a culpa é de todos e acima de tudo da imensa hipocrisia que vai neste mundo de mangas de aplaca dos triunais, da segurança social e do tráfico da bondade humana.