segunda-feira, fevereiro 01, 2016

Temos o direito à história



Ficaram famosas as 80.000 fotocópias que Paulo portas levou quando deixou o ministério da Defesa, mas é bem mais provável que Paulo Portas tenham no seu bunker secreto muito mais do eu 80.000 fotocópias de processos governamentais, diria mesmo que nos arquivos secretos do irrevogável político da direita monárquica, religiosa e ultra conservadora terão mais “história” do governos dos últimos anos do que vai ter a Torre do Tombo sobre este período.
  
Nixon foi forçado a abandonar do cargo de presidente dos EUA  porque todas as suas conversas eram gravadas, Hillary Clinton tem tido problemas por supostamente ter usado uma conta pessoal de email e depois terá apagado emails que deveriam ter sido conservados. É assim nas democracias, o mais poderoso dos governantes não está autorizado a decidir o que quer e a apagar todas as provas, os governos podem fazer história, mas não a podem destruir negando a memória ao país. 
  
Em Portugal sabe-se melhor o que se passou na corte de D. João II do que sobre as sucessivas alterações do memorando com a Troika. Quando o governo de Sócrates assinou o memorando a direita exigiu que fosse tornado público e quando este foi divulgado foi exigida a sua tradução. O problema e que o memorando foi ignorado e rapidamente substituído por sucessivas versões secretas e os portugueses nunca mais souberam de nada, de vez em quando eram ameaçados com a chantagem da Troika, enquanto os membros das organizações internacionais usavam a comunicarão social para divulgar as ameaças veladas ao país.
  
Portugal é neste momento um país sem história, os seus cidadãos não têm o direito de saber o que se negociou entre o governo de Passos Coelho e a Troika, o que só por si mostra que estamos perante um período tão negro que os governantes adoptam cautelas típicas de criminosos. Que mais coisas escondeu o governo e a Troika dos portugueses? Quantas mentiras foram combinadas? Quantos negócios foram feitos em segredo?
 
Portugal é uma democracia europeia, a UE é uma organização internacional alicerçada nos valores da democracia, era isso que a distinguia da EFTA, organização onde cabiam ditaduras como a de Salazar. É inaceitável que quatro anos de governo, de negociações intensas, de revisões sucessivas do memorando de entendimento se resumam a nada e até um governo legítimo é surpreendido por acordos secretos que nunca foram divulgados por não corresponderem ao discurso oficial das instituições naionais e internacionais. Passos Coelho, Lagarde e Durão Barroso juntaram-se para
ludibriar os portugueses, gozarem da sua democracia e borrarem em cima da sua história.
  
Apetece perguntar se isto não configura nenhum crime e se a Procuradoria-geral da República, m que tem como obrigação defender a legalidade democrática, nada tem a comentar. Enfim, deixemos a justiça para outra ocasião, todos sabemos que a escolha de uma princesa do cavaquismo nada teve de inocente. A questão agora está em saber que compromissos assumiu o governo português em nome de um país e de um povo sem que para tal estivesse mandatado. Porque o país tem direito à verdade e é inaceitável que pantomineiros como Passos Coelho e Paulo Portas nos recusem o direito à história.

Talvez mais grave do que a bancarrota financeira de que tanto se falou é a bancarrota da democracia da responsabilidade de políticos que estão para a democracia como o Ricardo Salgado está para a banca. Pior, do que se passou ou passa dentro do BES ainda se sabe, do que andou Passos Coelho e Paulo Portas a fazer durante quatro anos quase nada se irá saber.