Dantes existiam impostos e taxas mas graças ao brilhantismo intelectual de Passos Coelho e à sua honestidade foi criado uma terceira solução, gera receitas para o Estado sem aumentar impostos ou criar as famosas taxas e taxinhas. Cortam-se de vencimentos sem qualquer negociação ou compensação. Para não parecer um exagero a par do corte do vencimento, aumentam-se as horas de trabalho, corta-se nas férias e aumentam-se os descontos.
Se fosse feito o mesmo a todos os trabalhadores isto seria um imposto, um aumento inadmissível da carga fiscal, mas como se aplica apenas a alguns já não é um imposto, é um corte na despesa, uma espécie de imposto negativo sem regras. Portanto, este “não imposto” só tem vantagens, não dá trabalho a cobrar, não pode ser objecto de recurso e não tem limites. À partida cortaram-se 30% dos rendimentos, mas sendo uma despesa é legítimo cortar nesta despesa até aos 100%, isto é, reintroduzindo a escravatura.
Entre aumentar impostos e reintroduzir a escravatura não há dúvida de que desde o Durão Barroso à Fitch, da Maria Luís ao dono do Pingo Doce, do Cavaco ao Marco António, todos estariam de acordo, o melhor será recorrer à escravatura, se não for total então que seja parcial, basta arranjar um nome diferente, talvez ajustamento. O ideal seria os funcionários serem escravos todos os dias, mas se isso não for possível então que sejam escravos de dois em dois dias, às segundas e às quintas, isto é, em 70% dos dias têm direito a vencimento, nos outros dias trabalham à borla e já se podem dar por contentes pois têm o privilégio de serem remunerados nos outros dias.
Foi com este milagre da economia que o governo anterior não aumentou ainda mais os impostos e preparava-se para ajudar as empresas a terem mais capital sem investimento. Bastava aumentar o IRS e reduzir o IRC ou aumentar a TSU dos trabalhadores e reduzir a dos patrões. A famosa desvalorização fiscal defendida pelo falecido guru de Passos Coelho.
Mas se for mesmo necessário aumentar os impostos então que se aumente o IRS, desta forma não se afecta o consumo e muito menos as despesas dos que mais gastam. Os impostos sobre o rendimento do trabalho são bons para a economia, permitem reduzir impostos como o IRC. Tudo o que seja bom para as empresas é bom para a economia.
É necessário promover a escravatura através de cortes de vencimentos e de impostos sobre o trabalho para gerar os recursos necessários para refinanciar a banca, recapitalizar as empresas e proporcionar felicidade e sucesso a todos os que investem em Portugal. A alternativa ao aumento da carga fiscal é a escravatura parcial de todos os que por trabalharem são um peso para a sociedade, despesa para o Estado ou custos para as empresas. Uma economia sem custos para as empresas e sem despesas é mais competitiva. Era esse o sonho de Passos, transformar a economia portuguesa, para isso basta uma desvalorização fiscal do trabalho, isto é, implementar a escravatura às segundas e quartas.
Portanto, é possível resolver os problemas do país sem aumentar a carga fiscal, em vez disso aumenta-se a carga sobre os novos escravos da economia portuguesa. Enfim, para a chulice a nossa direita é muito criativa.