O debate do OE é o principal debate político que se realiza anualmente no parlamento, nalgumas circunstâncias, como as atuais, pode mesmo ser mais importante do que o debate de um programa de governo ou de uma moção de censura. O país está no fio da navalha, basta um descuido orçamental para que enfrente dificuldades externas e internas.
Ainda que um OE cujo défice tende para zero não disponibilize recursos para grandes despesas, não deixará de ter um grande impacto na economia, quer pelas opções ao nível das receitas, quer pelas decisões no domínio da fiscalidade. Durante 2017 uma boa parte da economia será afetada pelas decisões agora adotadas e pela forma como serão cumpridas.
Na discussão do OE para 2016 Passos Coelho adotou a posição ridícula e politicamente criminosa de se abstrair do debate do OE, limitando-se a aproveitá-lo para beneficiar do tempo de antena que lhe proporcionou. Passos Coelho usa o OE em proveito próprio e num contexto difícil como é o do país, revelou-se mais preocupado com o seu umbigo do que com o país, prosseguindo a sua pantomina do primeiro-ministro legítimo que por lhe terem arrebatado o poder está no exílio.
Desta vez, para “passar a mão pelo” de Marcelo, o líder do PSD disse que ia fazer propostas orçamentais, mas foi ainda mais longe do que o ano passado na sua pantominice do primeiro-ministro no exílio. No mesmo dia em que o OE começava a ser debatido, Passos Coelho organizou, em Albergaria-a-Velha uma fantochada que designou Jornadas da Consolidação, Crescimento e Coesão.
Enquanto o governo da República discutia na Assembleia da República o OE, com a presença das principais figuras do parlamento, exceto as do PSD, que deram o lugar à “equipa B”, com o se fosse o Sporting dos tempos em que Bruno de Carvalho obrigava o treinador a jogar algumas competições, com jogadores que não eram titulares habituais, Passos foi para Albergaria-a-Velha participar na sua encenação.
No fundo, Passos criou uma alternativa à AR, promoveu a reunião das Cortes de Albergaria-a-Velha, Em Lisboa discutia-se o OE do governo que arrebatou o poder ao vitorioso Passos Coelho, em Albergaria discutia-se aquilo que seria o OE do governo se Passos não tivesse sido forçado ao exílio.
É óbvio que só os militantes mais radicais do “exilado” se deram ao trabalho de ouvir as suas propostas, aplaudindo-o com a mesma convicção e paciência com que lidamos com alguém que sabemos estar intelectualmente debilitado. Passos Coelho parece estar louco e, acompanhado da sua extrema-direita chique, leva a sua loucura ao ponto de destruir a credibilidade política de todo o PSD.