A escolha de Guterres foi bem mais cristalina do que desejava a Kistalina, uma rapariga sabichona que fugiu à avaliação contínua e foi só à oral do exame final onde, com ajuda de umas cábulas, parecia estar a candidatar-se a uma junta de freguesia, só lhe faltando prometer que punha a Tia Joaquina em alta comissária de qualquer coisa.
Gostei de ver a Assunção Cristas lendo a sua cassete de membro do Partido Popular Europeu, rodando a cabeça de um lado para o outro, enquanto a abanava de cima para baixo, tendo por fundo o Museu de Marinha. Com a senhora a falar, falar sem dizer nada, vieram-me à memória aqueles cachorros que no passado estiveram na moda nos nossos automóveis, ficavam atrás, em cima de um bordado abanando a cabeça como os movimentos da viatura.
Assunção Cristas falou para elogiar António Guterres num esforço de desvalorização da diplomacia e, em consequência, do Governo. Esta foi a posição de algumas personalidades de direita, que já se devem ter esquecido das alcunhas que puseram a Guterres no passado, do quanto gozaram dele e da forma com um governo com menos um deputado do que o necessário para ter a maioria absoluta, cedeu o lugar a essa coisa chamada Durão Barroso. Quis o destino que com poucas semanas de diferença o mundo nos tenha explicado a diferença entre um homem e uma coisa.
Angela Merkel e Juncker aprenderam que não se podem comportar no mundo com recurso aos mesmos truques a que recorrem na política europeia. A Alemanha aprendeu uma dura lição e o presidente da Comissão Europeu caiu no ridículo com a já famosa licença sem vencimento da Kristalina.
Passos Coelho, que tanto criticou este governo de falta de influência fora das nossas fronteiras, teve de ver um dos seus ex-deputados europeus a fazer lóbi pela Kristalina, enquanto o seu Partido popular Europeu fez da Búlgara a sua candidata oficial. Não deve ter sido fácil elogiar a escolha sabendo que o seu contributo foi nulo, acabou por cair no ridículo com a tentativa imbecil de desvalorizar o papel do governo, dizendo que tinha telefonado para um embaixador. Desde quando é que um líder da oposição telefona directamente aos funcionários públicos para os elogiar pessoalmente pelos sucessos do Estado?
O destino é uma caixinha de ironias e aquele que enquanto primeiro-ministro foi um grande defensor do sistema de quotas para favorecer a participação das mulheres, chega a secretário-geral da ONU , para desgosto das organizações feministas, porque o Conselho de Segurança optou pela escolha com base no mérito. O agora famoso Tino de Rans celebrizou-se qundo num congresso do PS tomou a palavra para se dirigir a Guterres, dizendo-lhe que se na escolha de secretário-geral do PS fosse adoptado o esquema das quotas eles não estaria ali. É muito provável que na hora em que a Kistalina apresentou a sua candidatura e muitos lhe apontavam o mérito de ser mulher, Guterres se tenha lembrado do então seu camarada do PS.
O destino é uma caixinha de ironias e aquele que enquanto primeiro-ministro foi um grande defensor do sistema de quotas para favorecer a participação das mulheres, chega a secretário-geral da ONU , para desgosto das organizações feministas, porque o Conselho de Segurança optou pela escolha com base no mérito. O agora famoso Tino de Rans celebrizou-se qundo num congresso do PS tomou a palavra para se dirigir a Guterres, dizendo-lhe que se na escolha de secretário-geral do PS fosse adoptado o esquema das quotas eles não estaria ali. É muito provável que na hora em que a Kistalina apresentou a sua candidatura e muitos lhe apontavam o mérito de ser mulher, Guterres se tenha lembrado do então seu camarada do PS.
A escolha de Guterres para ONU significa que está o caminho aberto para a luta pela presidência da Fundação Gulbenkian, um dos cargos de maior prestígio do país. Guterres era o mais que provável sucessor de Artur Santos Silva, que brevemente atingirá o limite de idade para exercer o cargo. Isto significa que vamos assistir a manobras por parte de alguns candidatos. Diria mesmo que no mesmo dia em que Guterres foi eleito começaram essas manobras à boleia dessa mesma eleição. Veremos se a escolha do futuro presidente da Fundação será tão cristalina como foi a do Secretário-Geral da ONU, se o último "kristalino" a chegar às Fundação não vai ser um candidato.