Os que no passado defendiam a privatização da CGD são aqueles que agora tratam o seu presidente como se fossem membros do CC a dirigirem-se ao controleiro do partido na fábrica de parafusos. Os mesmos que justificam a gorjeta da Arrow à modesta licenciada pela Lusíadas com o argumento da sua grande preparação, são os que agora querem que o presidente da CGD ganhe um pouco mais do que um franciscano e menos do que uma carmelita. Os mesmos que privatizaram a EDP e pediram ao PC Chinês para lá meterem o professor catedrático do ISEG a tempo parcial 0% para ganhar algum enquanto a natureza o permitir, como prémio pelo seu desempenho na negociação do memorando, são os que agora estão muito incomodados com os salários do presidente da CGD.
A CGD é o maior banco português e da sua boa gestão depende muito a evolução futura da economia, não está em causa uma pequena mercearia que pertence ao Estado, está em causa uma instituição financeira que atravessa uma fase crítica e que se for mal gerida pode afundar o país. Ao lado do prejuízo que pode dar uma gestão incompetente da CGD o que um administrador competente possa ganhar, não chega a uma gorjeta que se dá por uma bica.
O debate que por aí vai em torno dos salários da administração da CGD ou da obrigação de declararem os rendimentos ao TC, não só é ridículo, como não passa de velhacaria política. Só um idiota acha que um presidente de um banco que roube cem milhões os vá depositar na sua conta à ordem, declarada ao TC. Só paspalhões é que fazem de conta que as declarações de rendimento servem para alguma coisa a não ser voyeurismo jornalístico.
Em décadas de declarações de rendimentos estas só serviram para dar trabalho ao TC, encher depósitos de documentos e para que jornalistas estagiários do CM se entretenham a fazer notícias idiotas, sobre quanto ganha cada político. Desde que foi criada essa obrigação de faz de conta que o mundo mudou, nos dias de hoje o merceeiro da esquina, que não paga um chavelho de impostos, já cria uma empresa num paraíso fiscal e compra dívida soberana do Luxemburgo.
O debate a que estamos a assistir não passa de puro cinismo, depois de falhado o plano B, de terem sido esquecidas as sanções, de a DBRS não ter ajudado o Passos, de a execução orçamental correr bem e de o OE de 2017 estar quase aprovado, tudo serve para criar problemas ao país e uma crise grave na CGD vinha mesmo a calhar. Passos Coelho é um político de mau augúrio, ele sabe que alguém da sua estatura político só chega ao poder transportado por desgraças.