Fala-se muito dos elevados salários dos gestores e comparam-se esses salários com os mais baixos nas empresas onde são praticados. É um verdadeiro petisco para a comunicação social que faz páginas de jornais, uma oportunidade de afirmação ideológica para a esquerda mais conservadora, uma oportunidade para partidos encalhados ganharem vida como grandes opositores e até este pobre Jumento se dedica ao tema.
É natural que num país que está longe de ser rico os jornais populistas transformem a divulgação de pensões altas em primeiras páginas, que ganhem clientes divulgando as remunerações de gestores de empresas. A miséria cultural pegou e todos os que de alguma forma possam ganhar com o espetáculo não perdem uma oportunidade, este tipo de discurso cai que nem ginjas num país onde se ganha mal. Não importa se o que recebe uma pensão baixa nunca tenha feito descontos, não raras vezes porque ganhava mais vivendo na clandestinidade laboral, e que o "pensionista rico" tenha feito descontos compatíveis com a pensão que recebe, o que importa é perseguir o rico.
O debate que por aí vai em torno dos salários dos gestores está fortemente inquinado por populismo, por inveja, por oportunismo jornalístico, por afirmações ideológicas e por tentativa de desenrascanço por parte de deputados encalhados. O custo para os contribuintes de um gestor de um banco, seja público ou privado, pode ser muito maior do que o que consta na folha salarial, veja-se, por exemplo quanto é que o país teve de pagar a gestores brilhantes como Ricardo Salgado, Oliveira e Costa e muitos outros.
O problema de Portugal não está nos salários dos gestores, é antes a sua falta de qualidade pois é isso que explica a falta de competitividade de muitas empresas, não apenas no sector da banca, mas na generalidade dos sectores da economia. Não são os salários dos gestores competentes que deveriam estar a ser discutidos, ainda bem que há gestores competentes que tornam as suas empresas competitivas, promovem empregos bem remunerados, têm boas práticas no domínio do cumprimento de obrigações laborais, fiscais ou ambientais e que entregam ao Estado mais de 50% do que ganham sob a forma de impostos e contribuições, mesmo sabendo que um dia um qualquer Passos Coelho lhes aplica uma contribuição extraordinárias e os reduz a pensionistas pobres.
O problema do país está na incompetência e má formação cívica dos gestores e é o custo destes, muitas vezes recebendo salário que não incomodam a consciência de Marcelo Rebelo de Sousa. O que me preocupa são os gestores que levam as empresas à falência destruindo empregos, que gerem na base de salários baixos, que montam esquemas para as empresas ganham competitividade graças à evasão fiscal, que só recorrem a trabalho mal remunerado. Os custos dos salários destes gestores, muitas vezes disfarçados com o que ganham por fora é que são o verdadeiro problema do país.