sábado, abril 22, 2017

A asfixia de Passos Coelho

“Está na hora do meu partido, que nunca foi um partido instalado nem com dirigentes dependentes da vida política para viver, encarar este debate sobre as primárias” [Miguel Relvas]



A última vez que Miguel Relvas teve uma intervenção em público foi quando se demitiu do governo, fez uma intervenção enigmática em que em vez de falar dele falou de Passos Coelho, mais do que um testamento Relvas fez uma certidão de nascimento do primeiro-ministro Passos Coelho, ficando óbvio que estava declarando a paternidade da criatura política. Agora volta a intervir para declarar abertas as cerimónias fúnebres do mesmo político, um morto-vivo da política que anda com a bandeirinha na lapela armado em alma penada.

Quando Miguel Relvas lança o debate em torno da escolha do líder do PSD através de diretas, numa entrevista publicada um dia depois de ter ressuscitado politicamente numa cerimónia de lançamento da candidatura de Montenegro à liderança do PSD, é óbvio que o progenitor da triste criatura eu nos governou está dizendo que rejeita a paternidade de Passos para adotar o Montenegro. Quando se propõem diretas está-se questionando a capacidade do aparelho do PSD escolher o melhor líder. Acontece que no último congresso Passos teve mais votos do que o Kim da Creia do Norte.

Mais do que o toca e foge de Rui Rio, um político pouco corajoso, incoerente e de parcos recursos, o discurso de Montenegro, apesar de ridículo e desastroso, foi uma candidatura à liderança do PSD. A verdade é que um dia depois o país esqueceu a sua proposta ridícula de eleger 50 deputados sem votos e o tema das notícias são as intervenções de Relvas e a sua proposta de diretas para a escolha do líder do PSD.

Isto significa que a oposição interna não só não vai esperar pelas eleições autárquicas para tirar o tapete a Passos Coelho. Os que opõem à liderança de Passos Coelho não esperam pelos resultados nas eleições autárquicas, dizem aos eleitores que ao votarem nas listas do PSD estão votando num partido cuja liderança não merece a confiança do partido e que por não ter sido escolhida por diretas tem uma legitimidade questionável. Por outras palavras, a oposição interna do PS deseja uma derrota expressiva de Passos nas autárquicas.


Não deixa de ter a sua graça ver um Montenegro que há poucas semanas se queixava de asfixia democrática, ser agora a cara de um movimento que pretende asfixiar Passos Coelho ainda antes das autárquicas, não hesitando em lançar um debate que apenas tem como consequência imediata uma derrota ainda mais expressiva do PSD nas eleições autárquicas. Sendo Montenegro o líder parlamentar do PSD, escolhido por Passos Coelho de entre os que lhe mereciam mais confiança, é caso para dizer que a escolha do próximo líder do PSD não começa da forma mais digna.