É bom que os governos sejam austeros no momento em que usam recursos públicos, seja dinheiro dos contribuintes, como agora se diz, seja o dinheiros que as próximas gerações de contribuintes terão de pagar. Não só é um bom princípio e uma exigência de qualquer cidadão, como é uma obrigação pois os recursos são sempre escassos e como tal devem ser considerados. Infelizmente nem todos os governos dão bons exemplos, recordo-me, por exemplo, da forma como os governos de Cavaco Silva gastaram os dinheiros do Fundo Social Europeu, era um fartar vilanagem, com os resultados que décadas depois ainda suportamos e com língua de palmo.
Ser austero não significa ser rigoroso, pode-se ser cuidadoso na forma como se gasta e muito incompetente no momento de fazer previsões. Foi o que sucedeu ainda recentemente, com o governo de Passos Coelho, cujos ministros das Finanças se revelaram incompetentes em matéria de previsões. A sua incompetência na política económica levou a que nunca acertassem nas previsões. A falta de competência técnica daqueles governantes levou a que não tivessem conseguido acertar numa única variável económica. Os orçamentos eram corrigidos trimestralmente, nunca acertaram numa previsão de crescimento económico ou de desemprego. A imprevisibilidade era tanta que ninguém podia confiar numa promessa governamental, ninguém, empresas ou cidadãos, sabiam com o que podiam contar no mês seguinte.
Se a austeridade e o rigor são atributos de um governo competente já a sacanice não pode ser considerada a melhor orientação para uma política económica, ainda que haja quem diga que deu excelentes resultados no Chile de Pinochet. Por cá os resultados não foram grande coisa, chamar reforma estrutural a cortes de vencimentos e pensões declarados inconstitucionais, dizer que um jovem desempregado tem a oportunidade da sua vida num país estrangeiro graças a um governo que lhe nega o futuro ou chamar requalificação ao despedimento de um funcionário público, podem ser boas soluções ideológicas, mas não passam de sacanices enquanto política económica. A política económica do governo anterior pode ser sintetizada em duas palavras: sacanice e velhacaria. Poder-se-ia acrescentar oportunismo, graças ao Tribunal Constitucional e às manobras eleitoralista em 2015 registou-se algum crescimento económico, só por oportunismo a direita justifica hoje esse crescimento com as velhacarias que fez aos portugueses.
O grande mérito de Mário Centeno não está apenas nos resultados, está sim em provar que é possível ser austero sem ser sacana, que é possível ser rigoroso sem ter de encobrir a incompetência com mais sacanice orçamental, que é possível ser honesto e falar verdade, que é possível dialogar e convencer toda a esquerda que é no poupar que está o ganho, que um país pode ser rigoroso na forma como gasta os seus recursos sem se culpar os pobres de comerem um bife a mais ou com recurso às ameaças do senhores Poul Thomsen, Abebe Selassie ou Subir Lall, essas três personagens do FMI que se predispuseram a fazerem de papões sempre que Passos Coelho precisava de ameaçar e amedrontar os portugueses.
Mário Centeno provou que é possível reduzir os défices orçamentais sem governos autoritários, sem a chantagem da troika e isso foi possível com uma grande adesão e compreensão por parte da maioria dos portugueses. Mário Centeno mostrou que a democracia pode resolver os problemas sem conduzir ao populismo e que é o rigor, a competência e a honestidade que conseguem os melhores resultados, ao contrário de um Passos Coelho que preferia o medo, o complexo de culpa e a chantagem para justificar as suas soluções.