Convinha que a direita soubesse definitivamente o que espera e pretende das agências de rating, se quer que todas considerem a dívida soberana portuguesa como lixo ou se exigem que todas a passem a considerar como triplo AAA. Desde os tempos de Sócrates, quando Cavaco defendia o respeitinho pelos mercados e Relva prometia que com a direita no governo o rating subiria, que a direita não aprece ter uma relação muito sadia com o rating da dívida.
Mas temos de aceitar que a direita evoluiu muito nos últimos meses, em menos de um ano deixou de apostar num novo segundo resgate para, ainda que de uma forma indireta, elogiar Mário Centeno. Agora já não parecem estar preocupados com o conteúdo das mensagens SMS de Mário Centeno, parece que já acreditam na sua competência e até lhe exigem que consiga melhorar o rating da nossa dívida! Enfim, sejam bem-vindos ao clube de fãs de Mário Centeno, há sempre lugar para mais uns quantos e em especial para filhos pródigos.
Ainda não há muito tempo que Maria Luís Albuquerque quase rejubilava de alegria pela Fitch ter mantido oi rating de lixo, até veio a público manifestar a concordância com os critérios. Também aqui houve uma pequena mudança, o rating da Fitch há muito que não despertava a curiosidade da direita, o que excitava o pessoal do Observador era a DBRS, cada vez que a agência canadiana os jornalistas e comentadores daquele jornal entravam em pré-orgasmo com a hipóteses de a única agência que classifica a dívida portuguesa acima de lixo deixar de o fazer.
Se soubermos ler nas entrelinhas do pensamento primário da direita portuguesa percebe-se que algo está para acontecer, se já esperam, com avidez as classificações da Fitch ou da Moody’s é porque acham que estas agências podem mudar a notação, isto é podem melhorá-la. Aliás, a dívida portuguesa ainda só é considerada lixo em consequência da situação da banca, uma herança da incompetência do governo de Passos Coelho. As grandes preocupações das agências prendem-se com a situação na CGD, com o crédito malparado e com a solução para o Novo Banco.
Mas temos de começar a aprender a descodificar o discursos da direita, quando prevê uma desgraça é porque a desejam, quando falam em milagres é porque as metas são realizáveis, quando apoiam o rating é porque receavam que tivesse melhorado e quando exigem que o governo consiga melhorar o rating é porque receiam que isso seja possível e pretendem desvalorizar esse resultado. A desilusão da direita em relação às notações da Fitch e da Moody´s é uma boa notícia para o país. Infelizmente é assim desde há seis anos, as boas notícias para o país são péssimas notícias para a direita, as más notícias para a direita são excelentes notícias para o país.