Se há tique tipicamente português que me irrita é essa mania de em vez de pensarmos sempre pela nossa cabeça haver sempre alguém que preguiçosamente inteligente nos diz que há ali, num qualquer país, a solução para o nosso mal. Mas o que nunca me passou pela cabeça, foi que depois de anos e anos a usarem a Grécia como uma reencarnação do diabo, o Montenegro se lembrasse de nos sugerir que imitássemos aquele país no sistema de escolha dos deputados.
Tivemos sorte porque do Montenegro poderia ter sido ainda mais criativo nos exemplos de soluções para a formação de governos estáveis. Também de agradecer a generosidade de Montenegro, por não ter sugerido que a adoção do modelo helénico da borla de deputados tivesse efeitos retroativos. Ao fim de mais de um ano os dirigentes do PSD ainda não se conformam com a ideia de que numa democracia parlamentar um governo ter de contar com o apoio da maioria dos deputados.
Esta não é a primeira ideia de revisão constitucional que parece servir apenas para testar a sanidade mental dos restantes partidos portugueses, logo que percebeu que não tinha maioria no parlamento Passos Coelho começou por sugerir uma revisão constitucional na hora para viabilizar a realização imediata de eleições legislativas antecipadas, a ideia era realizar tantas eleições antecipadas sucessivas quanto as necessárias para a direita poder contar com uma maioria absoluta.
O desespero do PSD é grande e já ultrapassa o horizonte temporal desta legislatura, Passos Coelho pôs fim à ideia de uma governação apoiada no chamado bloco central e quando o PS era liderado por Seguro ainda se divertiu com falsos diálogos promovidos por Cavaco Silva. Até aí não era necessária qualquer revisão constitucional, nem para antecipar eleições, nem para dar deputados à borla.
Agora que todos os deputados do parlamento contam para a formação dos governos e perdida a ajuda do diabo Passos Coelho percebeu que a atual solução governativa nada tem de geringonça. Sabendo que uma coligação governamental de toda a esquerda é impossível e com Cristas a recusar a repetição do PAF, restava ao PSD uma borla de deputados para poder governar.
A solução até faz sentido, o que não faz sentido é que Passos Coelho, Montenegro, António Costa e Maria Luís Albuquerque pensem que na esquerda e mesmo a Assunção Cristas são assim tão parvos para que o PSD pudesse passar a governar com uma maioria absoluta no parlamento mesmo com menos de 30% dos votos.