Se fosse uma notícia que informasse de que Portugal estava no 19º do ranking da Transparência Internacional cairia o Carmo e a Trindade, a Fátima promoveria um debate, o Fernandes diria que a culpa é da Gerigonça, a Catarina correria a propor um decreto, o Louçã dar-nos-ia lições de moral. Mas, como se trata de corrupção entre empresas privadas e isso não é considerado como tal no Código Penal, a notícia foi ignorada. [Expresso]
Curiosamente Portugal até desceu, porque passou de um vergonhoso 5.º lugar em 2015, para o 19.º em 2017. Note-se que ao contrário do que faz a Transparência Internacional, esta posição não resulta de perceções, mas sim de inquéritos a gestores. E desiludam-se os que pensam que um 19.º lugar europeu significa que os nossos empresários sofreram de uma epidemia de concorrência, sã, leal e comercial. O estudo informa que 60% dos inquiridos a admitirem suborno ou práticas de corrupção (contra 82% do inquérito anterior). É obra, 60% dos negócios envolvem dinheiro por fora.
Isto significa que 60% dos nossos gestores preferem fazer um negócio sendo corrompidos do que negociar com um parceiro honesto, isto é, quem pensa que a competitividade na economia portuguesa se consegue apenas com gestão competente está enganado, por cá mandam os Chicos espertos e quem não aceitar as regras do jogo mafioso fica de fora, fecha a porta. Não são apenas os jovens que são forçados a procurar outras paragens, são também os empresários que não entrem neste esquema.
Em Portugal fala-se muito pouco da corrupção nos negócios privados, como se fosse um problema das empresas, como se nada tivéssemos que ver, como diria um qualquer contribuinte da nossa praça, é um problema deles, não é pago com o dinheiro dos contribuintes. Por isso, anda-se a meter na cadeia o funcionário que recebe uma gorjeta e tratamos como jet set os banqueiros que recebem comissões de milhões, como se soube em relação a Ricardo Salgado.
Mas, a verdade é que tudo isto é pago pelos contribuintes e com língua de palmo. Em primeiro lugar porque as centenas de milhões ganhos desta forma não pagam impostos, são financiados com dinheiro que circula em entre sacos azuis e em esquemas de branqueamento. Para que existam esses sacos azuis é necessário que se façam uma infinidade de negócios sem fatura, negócios como a Bolas de Berlim são as nascentes de pequenos riachos que acabam por desaguar nos imensos amazonas de corrupção dos nossos banqueiros.
Nesta enxurrada de evasão fiscal destroem-se empresas competitivas, eliminam-se empresários que não são corruptos, acabam-se por encharcar toda a sociedade com dinheiro fácil. Urge acabar com esta economia do Chico esperto, criando condições para que sejam as empresas competitivas e os empresários competentes as crescer e tornar a economia competitiva.