Esta semana iniciou aquilo que pode ser considerada como a Quaresma de Passos Coelho, a apresentação feita por Relvas de Luís Montenegro como um homem do futuro, um dia antes de uma entrevista ao Expresso em que defendeu a realização de diretas para a escolha do PSD, dá-se início a um longo período de liturgias partidárias que terminarão com a crucificação de Passos Coelho. O mesmo Relvas que na hora da despedida do governo reclamou a invenção da criatura, decide agora dar início ao seu enterro político.
Assunção Cristas prometeu que com ela Lisboa deixaria de ter sem-abrigo. Como é pouco provável que os leve para casa resta saber se os vai mandar para Oeiras, para o Barreiro, para o Montijo ou para Odivelas. Uma coisa é certa, é um pouco mais fácil dizer aos funcionários do Ministério da Agricultura para não usarem gravata e desligarem o ar condicionado do que desligar tanta gente que vive nas ruas da cidade. Mas se a devota conseguir esse milagre, pode ser que nos prometa um euromilhões a cada lisboeta ou, quem sabe, um desconto na Uber ou nas bombas de gasolina do papá.
Montenegro descobriu uma solução para que um dia que ganhe eleições possa ter maioria absoluta no parlamento, propôs que o partido mais votado levasse uma borla de cinquenta deputados. O mais divertido é que o até aqui braço-direito de Passos Coelho argumenta que desta forma aproxima eleitores de eleitos, isto é, a melhor forma de os eleitores se identificarem com os eleitores seria cinquenta deputados que ninguém escolheu acabarem por decidir quem governa. Mas o ridículo da proposta não se fica por aqui, talvez rendido à Grécia foi nesse país até aqui maldito que foi buscar a ideia. Estamos cheios de sorte, imaginem se tivesse ido buscar a solução da estabilidade política à Venezuela.
Vítor Gaspar decidiu alegrar-nos com o seu refinado sentido de humor, como o mundo pouco sabe de política orçamental decidiu mandar parar as escolas de economia para lhe ouvirem aqueles a que definiu como os cinco princípios básicos da política orçamental: ser contracíclica, amiga do crescimento, inclusiva, suportada pela real capacidade fiscal, e conduzida com prudência. Graças a esta grande sumidade intelectual, só superada pela Maria Luís Albuquerque, o mundo vai saber gerir as suas contas, basta fazer tudo ao contrário do que o próprio Gaspar fez quando era ministro das Finanças.