Como é de esperar o PSD, o PS e o CDS fizeram seu o discurso de Marcelo rebelo de Sousa, enquanto o BE e o PCP não aplaudindo fizeram suas as metas definidas por Marcelo. Acontece que a exigência de mais crescimento económico por parte de Marcelo deveria ter merecido a discordância tanto à direita, como do lado da esquerda mais conservadora.
Marcelo não pediu apenas mais crescimento, se o tivesse feito seria mais ou menos a mesma coisa que desejar uma tarde com sol e sem muito calor, estaríamos operante uma meta com a qual seria possível unir o cardeal ao Jerónimo de Sousa, a Catarina à Assunção ou o António ao Pedro. Até o Cavaco, um ausente nas cerimónias de quem ninguém pela falta, se poderia juntar á festa. Marcelo pediu também mais distribuição e aqui é que a porca torce o rabo.
Não é a mesma coisa distribuir mais para ter crescimento, ter crescimento porque se distribui menos ou crescer e distribuir mais. Não se trata apenas de diferenças gramaticais, estamos perante pressupostos que conduzem a políticas económicas bem diferentes e só por puro oportunismo vimos tanta unanimidade.
A política económica defendida por Gaspar e que desde então tem estatuto de cartilha para Passos Coelho, Assunção Cristas, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque, assenta numa perda radical de rendimentos do trabalho, desvalorizava-se fiscalmente o factor trabalho para estimular o capital graças a mais lucros. Não se crescia para distribuir melhor, primeiro redistribuía-se para que os menos ricos ficassem mais pobres para promover um crescimento cuja riqueza voltaria a ser distribuída de forma injusta. A esta lógica a direita tem chamado "crescimento consolidado", consolidado porque uma boa remuneração do capital estimulava o crescimento, porque salários cada vez mais baixos atraem os investidores ávidos por ganharem mais.
O PCP e o BE foram mais honestos e acusaram o toque, afirmaram-se em concordância com o objetivo mas sem realçaram uma discordância, defenderam uma solução de política económica muito diferente da defendida por Marcelo. Para a esquerda mais conservadora primeiro distribui-se e depois cresce-se, a redistribuição é uma exigência ideológica e apresentada como uma vitória do trabalho sobre o capital. Se os investidores querem investir e terem lucros terão primeiro de pagar muito melhor. Para o PCP e BE há riqueza quanto baste e só não há crescimento porque as normas.
Se para alguma direita há um conflito entre o crescimento e a distribuição equitativa da riqueza, para alguma esquerda opta por considerar que a distribuição equitativa da riqueza é uma questão prévia à análise da questão do crescimento. Uma coisa é certa, ninguém ouviu muito bem o que Marcelo defendeu.
Se para alguma direita há um conflito entre o crescimento e a distribuição equitativa da riqueza, para alguma esquerda opta por considerar que a distribuição equitativa da riqueza é uma questão prévia à análise da questão do crescimento. Uma coisa é certa, ninguém ouviu muito bem o que Marcelo defendeu.