No outro Abril os jornalistas defendiam a democracia, neste Abril os jornalistas fazem de acusadores públicos em julgamentos fantoches. No outro Abril os jornalistas defendiam os valores da democracia, neste Abril há jornalistas a fazerem de vigilantes, perseguindo todos os que opinem em defesa de valores.
No outro Abril dizia-se que o regime promovia os três “f”, o fado, Fátima e o futebol. Nesta Abril Amália e Eusébio estão no Panteão, as televisões dedicam metade das suas emissões noturnas ao futebol e o Papa vem a Portugal canonizar os pastorinhos, promovidos de beatos a santos por terem salvo uma criança que caiu de um sétimo andar.
No outro 2 de Abril o povo queria ter cuidados básicos de saúde, criou-se o SNS e pouco tempo depois foi introduzida a vacina triplice contra o sarampo, a rubéola e a “papeira”. Neste 25 de Abril o país assistiu à morte de uma jovem que não tinha recebido a vacina, acordando para a realidade de um movimento que recusa o progresso e em nome de valores de tribos urbanas põe em causa a vida dos filhos.
Hoje há democracia, mas há novas formas de repressão, há medo de jornalistas sem escrúpulos, de juízes justiceiros, de magistrados que tiraram direito com passagens administrativas. Há um SNS moderno mas temos medo do sarampo, vamos voltar a ter medo das consequências da rubéola. Temos instalações hospitalares modernas e equipamentos sofisticados, mas nunca tivemos tantos endireitas, tantos falsos médicos e falsas medicinas.
Este Abril está longe de ser feliz, o fanatismo mata nas lutas entre claques desportivas, mas mata também em famílias que tiveram direito a melhores e escolas e universidades e agora ensinam a ignorância e o obscurantismo por oposição ao progresso científico. Os valores mais elementares da justiça são ignorados, a começar pelos magistrados. Este Abril está longe daquele que Abril prometeu.