Quase sem ninguém perceber de vez em quando desaparece mais
uma das espécies que animaram o país no circo de Passos Coelho. Desde logo essa
estrela que é o António Borges e que mais parece um cometa, ora aparece deixa
por aí algumas das suas poeiras e continua na sua órbita até desaparecer. O Nogueira
Leite prometeu emigrar se o governo lhe fosse ao bolso, a verdade é que o
governo foi-lhe mesmo aos bolsos, saiu da CGD e não se sabe bem se anda por aí
ou se emigrou e anda por lá, o certo é que ninguém o vê. João Duque também
parece ter desaparecido, dantes bastava o governo adoptar uma medida de
austeridade para que João Duque tivesse logo de correr para dar explicações em
prime time, gora desapareceu.
Até parece que alguém ouviu a palavra de Deus e decidu construir uma Arca de Noé para salvar o zoo de Passos Coelho pois é certo de que mais dia, menos dia vem aí um dilúvio que limpará o país desta direita.
Mas o mais curioso dos desaparecidos é o senhor Costa do
Banco de Portugal, essa entidade competentíssima que permitiu a fraudes do BPN
e do BPP, esse regulador cuidadoso que permitiu que os bancos trabalhassem sem
capital, essa instituição independente do poder que emprega nos gabinetes
ministeriais uma boa parte dos seus quadros. Pois o senhor Costa que era um dos
mais fervorosos militantes da pinochetada económica do Vítor Gaspar
desapareceu. No outro dia ainda foi explicar a crise a uns pirralhos, mas a
verdade é que desapareceu.
Pois o nosso Costinha do Banco de Portugal não deverá ter
desaparecido por mero acaso ou porque o governo lhe foi aos bolsos. Então
porque razão despareceu o senhor Costa, um modesto economista que outro portuense
do governo PS promoveu a governador do BdP?
Terá entrado em conflito com o governo, zangou-se com o
Gaspar, discorda da ultima pinochetada do Gaspar, decidiu manter a distância
que devia ter mantido desde o primeiro dia? Desiludam-se, o senhor Costa não tem
nada de parvo, o que o senhor Costa está fazendo é protegendo os seus
interesses, está saindo das luzes da ribalta não vá alguém lembrar-se que o seu
BdP não passa de uma zona de conforto para amigos, a instituição com menos
competências e responsabilidades do Estado português, mas a que melhor paga.
É curioso como o Banco Central Europeu colocou um dos seus
em ministro das Finanças e o Banco de Portugal reservou para si o mais
importante lugar de secretário de Estado. O ministro adopta as medidas e
esquece-se de as aplicar aos funcionários e gestores do Bdp. O secretário de
Estado lixa os funcionários públicos mas esquece-se dos seus colegas do BdP.
Estes senhores estão confundindo o estatuto de independência do Banco de
Portugal com um estatuto de extra-territorialidade. Se estivessem isentos de
pagar IVA e IMI dir-se-ia que tinham o estatuto de diplomatas, mesmo assim não
me admiraria que estivessem a receber algum subsídio para compensar o impacto
da austeridade. A verdade é que o Gaspar fez o levantamento dos sistemas de
remuneração do Estado e deixou de fora o BdP.
O BdP é Estado para ums coisas e é uma entidade privada
noutras, mete-se na política quando quer e invoca a independência quando lhe
convém. De caminho vai controlando o ministério das Finanças, colocando um
ministro, um secretário de Estado e vários directores-gerais, adjuntos e
assessores. É como se o ministro da Justiça fosse alguém sugerido pelo
presidente do Supremo Tribunal. E por falar em presidente do Supremo como é que
se explica que o Rosalino do Bdp possa decidir cortar no vencimento do seu presidente
e permitir que um estagiário BdP ganhe mais do que um médico?
Este controlo do ministério das Finanças pelo BdP além de
ser perverso é uma violação clara da independência entre o governo e o BdP,
independência que deve ser entendida nos dois sentidos. Percebe-se porque razão
o senhor Costa desapareceu, desta forma evita que alguém se lembre dessa situação
pornográfica que é o estatuto de zona franca do conforto no Estado que é a
bandalhice instalada na gestão dos dinheiros do BdP. Porque razão os funcionários
do BdP não tiveram qualquer corte ou perda de benefícios? Porque razão a única
reestruturação feita no estado foi a do Bdp e dela resultou a
extra-territorialidade do banco em relação ás medidas de austeridade? Porque
razão o fundo de pensões do BdP foi o único da banca a não ter sido transferido
para o Estado?
Percebe-se o desaparecimento do senhor Costa, é para que o
povo não perceba que é o BdP a decidir as pinochetadas que o povo leva e em
troca os seus administradores e pessoal fica de fora de todas as medidas de
austeridade.
A independência não significa que os funcionários tenham de
ser tratados como se fossem estrangeiros e tanto quanto se saiba do memorando não
constam excepções. Na EU o estatuto dos funcionários do BCE é rigorosamente
igual aos dos funcionários da Comissão ou do Conselho. Porque razão em Portugal
os funcionários do BdP ganham mais do dobro e não estão sujeitos a qualquer medida
de austeridade.
Vá lá senhor Costa, apareça e já que gosta de dar lições ao
país aproveite e explique o porquê deste abuso oportunista.