Durante anos os portugueses discutiram a avaliação no
ensino, debates intermináveis com professores, associações de professores,
sindicatos personalidades, Carrilhos vários a intervir. Agora veio o Gaspar e o
país ficou mais simples, o Crato juntou os pirralhos do 4.º ano de
escolaridade, meteu-lhes uma declaração de honra na frente para assinarem,
juntou professores do ensino secundário de outras cadeiras (como os professores
são gente confiável e ignorante escolheram os de outras disciplinas, não fossem
eles saber da matéria e ensinarem algum puto mais mandrião) e toca a fazer o
exame que se faz tarde. Alguém protestou? Ninguém! E os ressabiados da
democracia mais os saudosistas do terceiro ano de escolaridade obrigatória
aplaudem os métodos, enquanto em tempo de crise os professores agradecem a
horas extraordinárias, mesmo sendo pagas por menos do que ganha uma mulher a
dias.
Quando uma empresa se deslocalizava no tempo de Sócrates
todas a televisões iam para a porta falar com os trabalhadores, às vezes pouco
mais do que uma dezena, quando era uma centena já era um escândalo de dimensão
nacional. Agora o Gaspar vai compensar o que perdeu em receitas fiscais com o
despedimento colectivo de 50.000 funcionários públicos e o assunto quase nem é
notícia, até porque muitos portugueses estão mesmo convencidos de que esses
funcionários são uns mandriões endinheirados que vão para os emprego só para se
entreterem. Por aquilo que se tem visto só falta o povo festejar na rua o
despedimento colectivo e o corte dos salários desses malandros, se o Ulrich se
lembrasse de convocar uma grandiosa procissão de acção de graças não admiraria
se tivesse maior dimensão do que as grandiosas manifestações do Mário Nogueira
em Luta contra uma Lurdinhas que se lembrou de avaliar os professores. Enfim,
antes o despedimento do que a avaliação…
Vivemos num país onde o conceito de nação se confunde mais
com o de fronteiras, não somos uma nação por sermos um povo com princípios e
valores, somos uma nação porque a norte fica a Galiza, a este Leão, Extremadura
e Andaluia, a sul e a oeste o Atlântico, no meio há lebres, coelhos, moscas,
percevejos e uns humanos de que dizem ser portugueses.
O Gaspar tem razão, esta gente pode ser sujeita a tudo, às
experiências mais violentas, porque no que resta dessa nação que em tempos foi
e teve motivo de orgulho há pouco mais do que gente interesseira, invejosa e
que não se importa de enriquecer com negócios manhosos de acções que outros pagarão
com impostos, cortes de pensões e despedimentos. O fenómeno não é novo, até nos
campos de concentração vimos prisioneiras a prostituírem-se ou a ajudar os
verdugos, os prisioneiros de uma região era usados para policiar os das outras
regiões, os de uma etnia voluntariavam-se para ajudar a matar os das outras
etnias.
O ajustamento de que o Gaspar disse em Bruxelas ser uma coisa
linda está a mostrar aquilo que somos enquanto povo e o que não somos enquanto
Nação. Talvez ele tenha razão e este povo mereça ser castigado e sacrificado em
nome dos princípios e objectivos do ministro das Finanças alemão, da manutenção
das mordomias do pessoal do Bdp e da garantia de lucros altos e garantidos de
banqueiros e bancários oportunistas e incompetentes. Com gente como o Mário
Nogueira, o senhor Costa ou o senhor Silva o Gaspar é bem capaz de ter razão.