quarta-feira, maio 08, 2013

Talvez o Gaspar tenha razão


Durante anos os portugueses discutiram a avaliação no ensino, debates intermináveis com professores, associações de professores, sindicatos personalidades, Carrilhos vários a intervir. Agora veio o Gaspar e o país ficou mais simples, o Crato juntou os pirralhos do 4.º ano de escolaridade, meteu-lhes uma declaração de honra na frente para assinarem, juntou professores do ensino secundário de outras cadeiras (como os professores são gente confiável e ignorante escolheram os de outras disciplinas, não fossem eles saber da matéria e ensinarem algum puto mais mandrião) e toca a fazer o exame que se faz tarde. Alguém protestou? Ninguém! E os ressabiados da democracia mais os saudosistas do terceiro ano de escolaridade obrigatória aplaudem os métodos, enquanto em tempo de crise os professores agradecem a horas extraordinárias, mesmo sendo pagas por menos do que ganha uma mulher a dias.
  
Quando uma empresa se deslocalizava no tempo de Sócrates todas a televisões iam para a porta falar com os trabalhadores, às vezes pouco mais do que uma dezena, quando era uma centena já era um escândalo de dimensão nacional. Agora o Gaspar vai compensar o que perdeu em receitas fiscais com o despedimento colectivo de 50.000 funcionários públicos e o assunto quase nem é notícia, até porque muitos portugueses estão mesmo convencidos de que esses funcionários são uns mandriões endinheirados que vão para os emprego só para se entreterem. Por aquilo que se tem visto só falta o povo festejar na rua o despedimento colectivo e o corte dos salários desses malandros, se o Ulrich se lembrasse de convocar uma grandiosa procissão de acção de graças não admiraria se tivesse maior dimensão do que as grandiosas manifestações do Mário Nogueira em Luta contra uma Lurdinhas que se lembrou de avaliar os professores. Enfim, antes o despedimento do que a avaliação…

Vivemos num país onde o conceito de nação se confunde mais com o de fronteiras, não somos uma nação por sermos um povo com princípios e valores, somos uma nação porque a norte fica a Galiza, a este Leão, Extremadura e Andaluia, a sul e a oeste o Atlântico, no meio há lebres, coelhos, moscas, percevejos e uns humanos de que dizem ser portugueses.
O Gaspar tem razão, esta gente pode ser sujeita a tudo, às experiências mais violentas, porque no que resta dessa nação que em tempos foi e teve motivo de orgulho há pouco mais do que gente interesseira, invejosa e que não se importa de enriquecer com negócios manhosos de acções que outros pagarão com impostos, cortes de pensões e despedimentos. O fenómeno não é novo, até nos campos de concentração vimos prisioneiras a prostituírem-se ou a ajudar os verdugos, os prisioneiros de uma região era usados para policiar os das outras regiões, os de uma etnia voluntariavam-se para ajudar a matar os das outras etnias.

O ajustamento de que o Gaspar disse em Bruxelas ser uma coisa linda está a mostrar aquilo que somos enquanto povo e o que não somos enquanto Nação. Talvez ele tenha razão e este povo mereça ser castigado e sacrificado em nome dos princípios e objectivos do ministro das Finanças alemão, da manutenção das mordomias do pessoal do Bdp e da garantia de lucros altos e garantidos de banqueiros e bancários oportunistas e incompetentes. Com gente como o Mário Nogueira, o senhor Costa ou o senhor Silva o Gaspar é bem capaz de ter razão.