Um dia
iremos estudar a história económica recente e avaliar os factos com rigor e
discernimento, os factos económicos serão analisados com rigor e sem a poluição
produzida pelas conjunturas políticas oportunistas, pelos golpes de propaganda
que encobrem jogos de interesses. A evolução da dívida será analisada, as políticas
orçamentais serão escrutinadas, os investimentos serão estudados e os seus balanços
feitos com base nos seus resultados económicos de longo prazo
Quando
essa história for feita será recordada uma frase de Jorge Sampaio, o mesmo que
hoje apela com ar pesaroso ao consenso, uma frase que ficou famosa porque soava
que nem música nos nossos ouvidos, que havia mais vida para além do défice. Uma
frase linda, com uma sonoridade que quase faz dela uma verdade absoluta, mas,
infelizmente, uma frase assassina que fez tábua rasa de todas as evidências
económicas.
Curiosamente
foi atirada contra uma Manuela Ferreira Leite de quem Sampaio é amigo e que
acabou por ser uma ministra desastrosa no plano das contas. Nada fez para
cortar a despesa do Estado, cumpriu os limites orçamentais com recurso a
truques e ainda comprometeu os resultados orçamentais futuros vendendo a dívida
fiscal ao preço da uva mijona. Coube a Sócrates recuperar da situação e ao
mesmo tempo que cobrava dívida fiscal para pagar ao City meter o défice nos
eixos.
Nessa
ocasião os historiadores vão descobrir que a dívida soberana disparou quando
acabou a transferência generosa dos fundos comunitários e que foi mais ou menos
nessa ocasião que algumas personalidades começaram a falar na necessidade de
despedir 150 mil funcionários públicos, viciados em dinheiro fácil e com a teta
de Bruxelas a secar depressa encontraram a alternativa mais fácil. Acabaram por
ir ao pote e dentro em revê perceberemos que o corte de 4.000 milhões no Estado
não passa de um transvase de riqueza .
Talvez
os historiadores se dediquem a perceber quem enriqueceu com o dinheiro fácil da
dívida soberana, se os pobres, os desempregados e os funcionários públicos
ou uma classe de políticos corruptos que
se transformou numa classe empresarial vocacionada para o proxenetismo. Um dia
talvez um historiador mais rigorosos com a verdade venha a descobrir que aquele
que começou a falar de produtos transaccionáveis é o pai espiritual desta
classe empresariam que nasceu na corrupção promovida pelos fundos comunitários.
Certamente
que os historiadores se vão rir ao constatarem que aqueles que impuseram aos
portugueses o mais duro programa de austeridade só repararam que havia dívida
soberana em 2010 ou 2011 e que meses antes de chegarem ao governo ainda
criticavam os Orçamentos de Estado por não serem expansionistas. Até pode ser
que algum historiador se dedique a produzir uma versão humorística da história
e reproduza alguns discursos de Cavaco Silva.
Só é
pena que a verdade já não venha a tempo não só de repor a verdade mas também de
exigir o dinheiro soa que roubaram para o devolver aos que sofreram com a
austeridade. Infelizmente para muitos deste não vai haver mais vida para além
da dívida, emigraram, suicidaram-se, morreram por falta de tratamento,
desistiram de serem portugueses e arrastam-se pelo país.