terça-feira, maio 07, 2013

E há mais vida para além da dívida?


Um dia iremos estudar a história económica recente e avaliar os factos com rigor e discernimento, os factos económicos serão analisados com rigor e sem a poluição produzida pelas conjunturas políticas oportunistas, pelos golpes de propaganda que encobrem jogos de interesses. A evolução da dívida será analisada, as políticas orçamentais serão escrutinadas, os investimentos serão estudados e os seus balanços feitos com base nos seus resultados económicos de longo prazo
Quando essa história for feita será recordada uma frase de Jorge Sampaio, o mesmo que hoje apela com ar pesaroso ao consenso, uma frase que ficou famosa porque soava que nem música nos nossos ouvidos, que havia mais vida para além do défice. Uma frase linda, com uma sonoridade que quase faz dela uma verdade absoluta, mas, infelizmente, uma frase assassina que fez tábua rasa de todas as evidências económicas.
Curiosamente foi atirada contra uma Manuela Ferreira Leite de quem Sampaio é amigo e que acabou por ser uma ministra desastrosa no plano das contas. Nada fez para cortar a despesa do Estado, cumpriu os limites orçamentais com recurso a truques e ainda comprometeu os resultados orçamentais futuros vendendo a dívida fiscal ao preço da uva mijona. Coube a Sócrates recuperar da situação e ao mesmo tempo que cobrava dívida fiscal para pagar ao City meter o défice nos eixos.
Nessa ocasião os historiadores vão descobrir que a dívida soberana disparou quando acabou a transferência generosa dos fundos comunitários e que foi mais ou menos nessa ocasião que algumas personalidades começaram a falar na necessidade de despedir 150 mil funcionários públicos, viciados em dinheiro fácil e com a teta de Bruxelas a secar depressa encontraram a alternativa mais fácil. Acabaram por ir ao pote e dentro em revê perceberemos que o corte de 4.000 milhões no Estado não passa de um transvase de riqueza .
Talvez os historiadores se dediquem a perceber quem enriqueceu com o dinheiro fácil da dívida soberana, se os pobres, os desempregados e os funcionários públicos ou  uma classe de políticos corruptos que se transformou numa classe empresarial vocacionada para o proxenetismo. Um dia talvez um historiador mais rigorosos com a verdade venha a descobrir que aquele que começou a falar de produtos transaccionáveis é o pai espiritual desta classe empresariam que nasceu na corrupção promovida pelos fundos comunitários.
Certamente que os historiadores se vão rir ao constatarem que aqueles que impuseram aos portugueses o mais duro programa de austeridade só repararam que havia dívida soberana em 2010 ou 2011 e que meses antes de chegarem ao governo ainda criticavam os Orçamentos de Estado por não serem expansionistas. Até pode ser que algum historiador se dedique a produzir uma versão humorística da história e reproduza alguns discursos de Cavaco Silva.
Só é pena que a verdade já não venha a tempo não só de repor a verdade mas também de exigir o dinheiro soa que roubaram para o devolver aos que sofreram com a austeridade. Infelizmente para muitos deste não vai haver mais vida para além da dívida, emigraram, suicidaram-se, morreram por falta de tratamento, desistiram de serem portugueses e arrastam-se pelo país.