Parece que os nossos banqueiros,
gente honesta, cumpridora, respeitadora dos princípios da legalidade e grande
defensora do interesse nacional, estão preocupados com o vírus do Chipre, diz a
comunicação social que todos os dias fazem as continhas aos depósitos não vá
alguém pôr-se ao fresco. Parece que o senhor Costa, bancário com alguns
conhecimentos de economia que cuida do rebanho financeiro, também anda
sobressaltado com o assunto.
Isto é, os mesmos senhores que
promoveram a gangrena na economia e na sociedade, ao ponto de conduzir o país
ao desastre, os mesmos bandidos que andaram anos a instalar off shores e a
ajudar os seus clientes de primeira a colocar uma boa parte da riqueza nacional
longe do país, o mesmos gestores responsáveis por esse imenso transvase da
riqueza nacional para o estrangeiro, estão agora preocupados como vírus do
Chipre, como se o vírus do Chipre fosse mais perigoso para a economia
portuguesa do que o vírus de Lisboa.
Quem os ouve até pode ficar a pensar
que nenhum banco português foi vítima da fuga dos depositantes ou que são tão
sólidos e honestos que precisam de ser infectados pelo vírus do Chipre. Não
terá sido antes o Chipre a sofrer com algum víus de Lisboa? Não terão sido as
mafias lisboetas envolvidas na banaca portuguesa a ensinar às mafias russas os
esquemas financeiros da banca? Um dia destes ainda vamos descobrir que por lá
há um Dias Loureiro com apelido grego e até mesmo algum sindicato de
magistrados a organizar congressos numa ilha grega financiados por banqueiros.
Quem ouve falar os nossos banqueiros
pode ficar a pensar que processos como o Monte Branco, o BPN ou a Operação
Furacão aconteceram no Chipre. Ou que os primeiros bancos a terem pedido ajuda
estatal foram os bancos cipriotas.
O vírus de Lisboa é bem mais
perigoso do que o vírus cipriota, é um vírus que corrompeu vastos sectores da
Administração Pública, que instalou centenas de off shores para exportar a
riqueza nacional para esquemas corruptos e duvidosos, é um vírus que corrompe
aa classe política ao mais alto nível, é um vírus que patrocina sindicatos de
magistrados altamente envolvidos nos golpes políticos.
O vírus de Lisboa é um vírus de cura
difícil e que chega a tomar conta de todo o organismo, quando receou o perigo
foi capaz de forçar o país a um pedido de ajuda internacional e hoje, quando
toda a economia portuguesa está à beira do colapso, a banca é o único sector
que recupera. Não admira que sejam os grandes portadores do vírus de Lisboa a
virem sistematicamente a público defender as políticas do governo.
Quem forçou o governo a pedir ajuda?
Quem tem mais funcionários em altos cargos governamentais? Quem é ouvido
sistematicamente pelo poder? Quem recebeu milhares de milhões de empréstimos
com a garantia de que os juros lhes seriam devolvidos? De quem se disse que iam
ser controlados pelo rigoros Gaspar e agora se sabe que pagam chorudos prémios
a gestores de competência duvidosa?
Começa a ser tempo de os portugueses
se curarem do vírus de Lisboa e há duas formas de isso suceder, ou o país
expropria os bancos de banqueiros corruptos e oportunistas ou terão de ser os
cidadãos a levá-los à falência em defesa da democracia.