Quando o Gaspar cortou os subsídios aos funcionários públicos
fez-se um silêncio concordante na sociedade portuguesa, se o Estado gasta
demais e uma boa parte do que gasta é com
os vencimentos dos funcionários públicos é justo que se corte nos
vencimentos daqueles que há muito a sociedade portuguesa identificou como uma variante
de xulos do intendente. O argumento de que ainda por cima ganhavam mais do que
os dos sector privado caia que nem uma luva, a austeridade e a crise seria
circunscrita a esses eleitos.
Quando o corte dos subsídios chegou aos pensionistas houve quem
tivesse franzido o olho, mas continuou o silêncio, se os xulos no activo pagavam,
os xulos reformados não deviam escapar. Só depois, quando se percebeu que todos
os pensionistas ficariam sem subsídios se ouviram alguns lamúrios, mas em nome
dos bons princípios da sustentabilidade do Estado social os que se escaparam à
austeridade voltaram a ficar calados.
Quando o Gaspar prosseguiu com a sua agenda de golpes sucessivos
achou que estava na hora de estender a desvalorização que com o apoio do sector
privado impôs aos funcionários públicos e pensionistas, transformando um
subsídio de cada trabalhador numa subvenção aos patrões, aumentando a TSU a uns
e reduzindo-a aos outros, é que a sociedade portuguesa se revoltou.
Os mesmos jornalistas que se entretinham a elogiar o Gaspar descobriram
de repente que a austeridade era brutal, isto é, quando os funcionários
públicos tinham perdido 10% do vencimento, ainda no tempo do Sócrates, mais
dois subsídios, mais um aumento nos descontos e, em cima de tudo isso, a
austeridade que consideram brutal sob a forma de aumento de IVA e IRS, para
além de todos os aumentos desde a electricidade aos transportes, não havia
razões para questionar a política do Gaspar. Quando o ministro da Finanças
decidiu aplicar aos portugueses de primeira um terço do que já tinha imposto
aos funcionários públicos foi o que viu, o “que se lixe a troika” ia pondo o
país de pernas para o ar.
Agora que o país vai assistir ao despedimento colectivo de 50.000
portugueses faz-se novamente silêncio, é justo que os funcionários públicos deem
o seu contributo para o desemprego. E como são uns xulos ainda devem ser
tratados como criminosos e impedidos de voltar a concorrer ao Estado, condição
que nenhuma empresa privada impõe a um trabalhador do sector privado. Os
funcionários públicos que forem despedidos no âmbito de uma “rescisão amigável”
ou de uma “requalificação” não terão direito ao subsídio de desemprego que o
governo decidiu pagar aos trabalhadores do Millennium que aceitaram indemnizações
bem superiores à do Estado. Os xulos não têm direito a nada e ainda devem levar
com um carimbo na testa a dizer xulo e não possam voltar a enganar o pobre
país.
É tão óbvio que ninguém protestará como é mais do que evidente que
dentro em breve estarão todos na rua chorando lágrimas de crocodilo e
prometendo revoluções em defesa dos pobres dos trabalhadores do Estado, basta
que o Gaspar se lembre de que, afinal, depois de tanto corte e aumento do
horário um estudo feito à pressa vai demonstrar que os trabalhadores do sector
privado vivem que nem uns nababos à custa do patrões. Ou ainda não perceberam
que vai suceder com esta vaga brutal de austeridade sobre a Função Pública o
mesmo que sucedeu com a anterior? Ou ainda não perceberam que sem dinheiro para
subsidiar as empresas a única forma de promover crescimento ´reduzindo custos
nas empresas? Ou ainda não perceberam que o Gaspar vai cobrar bilhete pelo
divertimento que está proporcionando ao povo do sector privado? Ou estão mesmo
convencidos de que o Gaspar odeia os funcionários públicos e ama o pessoal do
sector privado?