A aceitação por parte de uma boa
parte das elites políticas lusas, jornalistas incluídos, da perda de soberania
em favor da Alemanha a troco de empréstimos a juros razoáveis é tal que já
ninguém fica incomodado o boche a dizer que em Portugal não há qualquer desvio
orçamental. Imagino que se amanhã o país for confrontado com mais um dos
desvios colossais manhosos a ser compensado com mais 30.000 despedimentos no
Estado o Presidente da República venha dizer que andou tão entretido a redigir
o comunicado do Conselho de Estado que até ficou grato por ter sido o coxo a
prestar esclarecimentos sobre a execução orçamental portuguesa.
Não é a primeira vez que a direita
portuguesa ente esta paixão pela direita conservadora alemã, é uma velha mania
da nossa direita, sempre que os alemães aparentam estar fortes e próximos da
vitória a nossa direita torna-se germanófila. Esta germanofilia é antiga, a
direita conservadora inglesa é democrática demais para os gostos das nossa
direita, o fascismo italiano era dado a palhaçadas e o franquismo espanhol
caracterizava-se pela burrice, a nossa direita sempre preferiu a exactidão, o
rigor, a força e o dinheiro dos alemães.
Portanto não admira que tenhamos um
ministro das Finanças que diz no nosso parlamento que “não fui eleito para
coisíssima nenhuma” e depois vá regularmente a Bona prestar contas e receber os
apaparicos do coxo. Por aquilo que se viu desta vez até leva as contas
portuguesas para o coxo as avaliar e o estatuto colonial é de tal forma
assumido que o ministro alemão até já emite comentários públicos em que divulga
as avaliações que faz.
A verdade é que já vamos no dia 23
de Maio e nada se sabe sobre a execução orçamental de Abril, mas pelo que
parece o país pode estar descansado pois a acreditar no ministro das Finanças
alemão tudo corre bem com as nossas finanças e não se regista qualquer desvio
orçamental, ao contrário do que alguns portugueses não autorizados a falar
sobre o seu país andaram por aí a dizer, incluindo os técnicos que nesta
matéria apoiam o parlamento.
Podemos estar descansados, o senhor Wolfgang
Schäuble depois de o Gaspar lhe ter entregue as contas garantiu que tudo corre
bem na sua colónia periférica. Se o senhor ministro o diz e não houve qualquer
erro de tradução isso significa que a execução orçamental lhe foi entregue mais
ou menos na data em que no passado costumava ser divulgada em Portugal. Assim
sendo faz todo o sentido que o governo deixe de divulgar a síntese da execução orçamental,
até porque o senhor Wolfgang Schäuble poderia ficar ofendido por achar que
estes pelintras lusos não confiam na sua palavra.