Como se sabe a honra é uma qualidade
intrínseca dos portugueses, uma instituição que ninguém ousa questionar e que
quando é posta em causa só pode ser lavada com sangue. Nos negócios, na gestão
do Estado, na políiica, no desempenho de cargos públicos, nos negócios de
transferência de jogadores de futebol, em todos os domínios da vida económica e
social, económica ou política dos portugueses a honra é um valor absoluto,
inquestionável e universal e doentiamente respeitado.
Se o Moutinho foi um bónus para quem
comprou o jovem colombiano o Bruno de Carvalho só tem de elogiar o Pinto da
Costa pelo excelente negócio com o jogador sul-americano e perguntar-lhe se
está interessado em mais algum jogador do plantel do Sporting para
fazer de berlinde do próximo pirolito que o FCP vender ao Mónaco.
Os portugueses podem ser pobres, os
seus políticos podem ser uns pelintras ensebados, o seu Presidente pode ter de
andar com gravatas coçadas e calças remendadas porque as pensões do casal já
não dão para as despesas, a presidente do parlamento pode ter de andar sempre
com o mesmo penteado e lavar a cabeça com sabão Clarim porque não ganha para o
tabaco, mas de uma coisa podem te a certeza, é gente honrada, gente que cumpre
os seus compromissos.
Veja-se o que se passava até à pouco
tempo no parlamento, a actividade parlamentar quase paralisava mas não devido à
divergência de ideias ou à luta política. O parlamento quase deixou de funcionar
com normalidade porque em cada três intervenções duas resultavam de um pedido
de intervenção para defesa da honra, por tudo e por nada um deputado pedia a
palavra e justificava a intervenção extra porque precisava de dar banho à
honra.
A única excepção à paranoia nacional
da defesa da honra foi José Sócrates, em relação a esse o senhor Palma, o Mário
Nogueira, a Felícia Cabrito e a Manuela Moura Guedes parece terem feito um
acordo secreto para decretar que no caso do ex-primeiro-ministro os bons
princípios da honradez não se aplicavam. Contra ele valiam todos os processos e
o recurso pelo próprio aos tribunais era algo de ofensivo para os jornalistas,
os tribunais estavam demasiado coupados com os Freeport, os canudos e as Faces
Ocultas para tratar da honra que a direita entendia não merecer qualquer
defesa.
Felizmente o país voltou a defender
a honra a qualquer preço e ainda bem que o Código Penal a defende, é para isso
que a lei penal serve, para defender os nossos bons valores. O Código Penal é o
sabão Clarim da nossa honra, uma esfregadela de Código Penal e a nossa honra
cheira logo como novinha em folha.