É por isso que os nossos
pensionistas podem ficar descansados, têm na presidência um pensionista, os
funcionários podem ser alvo de um mega despedimento colectivo, os impostos
podem ter aumentos brutais, tudo pode suceder aos portugueses que ninguém se
lembra de recorrer ao Constitucional ou de falar em limites de respeito da
dignidade. Mas se o OE atinge as pensões Cavaco recorre logo ao Tribunal
Constitucional, até porque o dinheiro das suas várias pensões já não chega para as despesas.
Constitucional, até porque o dinheiro das suas várias pensões já não chega para as despesas.
Vivemos num país do salve-se quem
puder onde cada um defende os seus interesses, já nem sequer se pode confiar na
Nossa Senhora de Fátima pois enquanto não voltar a haver condições para
investir na SLN parece estar ocupada influenciando a troika. O país que elegeu
um senhor que se apresentou como sabendo muito de economia esquece a ciência e
resigna-se às dádivas divinas e até tem em Belém uma espécie de sacerdotiza
habilitada a interpretar os acontecimentos e os humores Virgem.
E enquanto a senhora via dialogando com
a virgem, trocando impressões sobre as swap e os dados trimestrais da recessão,
o senhor vai a Melgaço faze o elogio do velho ruralismo, queixa-se de que na
capital só recebe más notícias, que quem ver ouvir boas notícias terá de ir a
Melgaço e ao interior. A Gomorra é terra de vícios e maledicências, os bons
valores estão no meio puro e ingénuo do interior. Na cidade há vício e no
interior virtudes, na cidade há gandulos e no interior há gente de trabalho, na
cidade há gente que não acredita no presidente e no interior aclamam-no com
grande respeito.
Na cidade dizem-se coisas inimagináveis,
diz-se por exemplo que o agora pensionista ganhou a primeira maioria absoluta
com a preciosa ajuda de um aumento das pensões. Dizem também que muitas das
pensões absurdas que o Estado paga resultam de normas eleitoralistas adoptadas
pelo pensionista. Até há quem diga que a crise actual não passa da falência de
um modelo económico e político a que chamam cavaquismos. Quis o destino que o
mesmo que esbanjou as ajudas comunitárias tenha agora de roer os ossos e
assistir ao desmoronar de um país que nestes vinte anos foi gerido pela cultura
do cavaquismo.