quinta-feira, maio 16, 2013

O pensionista

Como é do conhecimento público Portugal não tem um Presidente da República, em Belém está alguém desempenhando funções que são remuneradas sob a forma de pensões de reforma. Aliás, temos dois pensionistas em Belém, um senhor que foi eleito e uma senhora que é esposa do primeiro, um senhor que discursa e uma senhora que trata dos negócios divinos.
É por isso que os nossos pensionistas podem ficar descansados, têm na presidência um pensionista, os funcionários podem ser alvo de um mega despedimento colectivo, os impostos podem ter aumentos brutais, tudo pode suceder aos portugueses que ninguém se lembra de recorrer ao Constitucional ou de falar em limites de respeito da dignidade. Mas se o OE atinge as pensões Cavaco recorre logo ao Tribunal
Constitucional, até porque o dinheiro das suas várias pensões já não chega para as despesas.
Vivemos num país do salve-se quem puder onde cada um defende os seus interesses, já nem sequer se pode confiar na Nossa Senhora de Fátima pois enquanto não voltar a haver condições para investir na SLN parece estar ocupada influenciando a troika. O país que elegeu um senhor que se apresentou como sabendo muito de economia esquece a ciência e resigna-se às dádivas divinas e até tem em Belém uma espécie de sacerdotiza habilitada a interpretar os acontecimentos e os humores Virgem.
E enquanto a senhora via dialogando com a virgem, trocando impressões sobre as swap e os dados trimestrais da recessão, o senhor vai a Melgaço faze o elogio do velho ruralismo, queixa-se de que na capital só recebe más notícias, que quem ver ouvir boas notícias terá de ir a Melgaço e ao interior. A Gomorra é terra de vícios e maledicências, os bons valores estão no meio puro e ingénuo do interior. Na cidade há vício e no interior virtudes, na cidade há gandulos e no interior há gente de trabalho, na cidade há gente que não acredita no presidente e no interior aclamam-no com grande respeito.
Na cidade dizem-se coisas inimagináveis, diz-se por exemplo que o agora pensionista ganhou a primeira maioria absoluta com a preciosa ajuda de um aumento das pensões. Dizem também que muitas das pensões absurdas que o Estado paga resultam de normas eleitoralistas adoptadas pelo pensionista. Até há quem diga que a crise actual não passa da falência de um modelo económico e político a que chamam cavaquismos. Quis o destino que o mesmo que esbanjou as ajudas comunitárias tenha agora de roer os ossos e assistir ao desmoronar de um país que nestes vinte anos foi gerido pela cultura do cavaquismo.