Quem ouviu ontem a deputada Maria Luís na TVI ou TVI24 não pode deixar de ter ficado surpreendido por ver a senhora fazendo-se parvinha, dando a entender que terá sucedido uma desgraça ao BES desde que ele deixou o ministério das Finanças. Com o seu ar angélico deixou a ideia de que tudo estava a correr bem, que apesar das divergências com a Comissão Europeia o banco iria chegar a bom porto e que o banco até já teria dado lucro ao estado com o pagamento de mais de 200 milhões de euros. De caminho fez ao governador do BdP o que a direita já tinha feito a Constâncio, a culpa do desastre não era do ladrão das galinhas, mas de quem devia ter protegido o galinheiro.
Quem ouviu António Costa ficou com a ideia de que entre várias soluções possíveis o governo escolheu uma que favorecia os depositantes, os empregados do banco e as regiões autónomas endossando os prejuízos para os contribuintes.
Quem sabe que o Banif era o banco dos negócios dos madeirenses endinheirados, dos Jaimes Ramos e de outros cujo passatempo político preferido era ofender Portugal e os portugueses, quem viu a direita justificar a austeridade com um desvio colossal que depois se soube ter sido provocado pelas aldrabices contabilísticas do governo regional da Madeira não pode deixar de sentir indignação quando é confrontado com o que aparenta serem dois pesos e duas medidas. De um lado a Soares da Costa despede centenas de trabalhadores, os bancos com sede no Continente, incluindo a CGD, reduziram os seus quadros em milhares de trabalhadores, os investidores do BES ficaram falidos, do outro parece ser um ai Jesus com o Banif. Foi esta a imagem que passou para a opinião pública.
A direita aproveitou a estratégia de comunicação do governo em seu favor e articulaou posições no quadro do PàF clandestino, a coligação que deixou de existir aos olhos dos eleitores, mas subsiste nos bastidores. A deputada só não propôs a comissão comissão parlamentar de inquérito porque a deputada Mariana Mortágua é o Lucky Luke do parlamentar de inquérito e foi mais rápida e antecipou-se, todos se mostram surpreendidos com os montantes e até têm a lata de dizer que o BES ficou mais barato, à borla.
O que eles não dizem é que o capital do banco já não existe, que os depósitos abaixo dos 100 mil euros estão garantidos pelo Estado e os depósitos acima daquele montante ou são fundos de entidades estatais ou capital circulante de empresas. Deixar o banco falir nada pouparia aos contribuintes pois o Estado teria que suportar as perdas de depósitos, bem como as consequências resultantes da falência do banco, da perda de depósitos de entidades estatais e do impacto nas empresas que perdiam parte ou a totalidade dos seus capitais circulantes.
A ideia de que deixar falir um pequeno banco não traria custos aos contribuintes é falsa e aos custos para o fundo de garantia dos depósitos ter-se-ia que acrescentar os custos para a Segurança Social do desemprego que daí resultaria, quer no banco quer nas empresas que cairiam com o banco. A forma como o primeiro-ministro comunicou a solução foi um erro de comunicação na medida em que induz quem o ouve na ideia errada de que decidiu que seriam os contribuintes a suportar todos os custos. Na verdade, foi a ex-ministra das Finanças, o ex-primeiro-ministro, o ex-vice-primeiro-ministro e o ainda governador do BdP que conduzira este processo de forma manhosa não olhando a consequências para que não sujasse a saída limpa e para que não estragasse o cenário de mentiras montado para as eleições, mais uma fraude a juntar a outras, designadamnet, ao falso reembolso da sobretaxa.