Durante décadas uma boa parte da esquerda teve em Cavaco um modelo de rigor e de honestidade, foi necessário que os lucros das acções da SLN lhes fossem metidos pelos olhos dentro para que muita gente percebesse que aquele senhor saloio com sotaque da Lapa não era o modelo de virtudes políticas que nele viam. O país acabou por pagar caro esta ingenuidade e hoje até a direita espera ver a triste figura pelas costas.
Agora o modelo de virtudes desta esquerda ingénua é o professor Marcelo, bastou que o candidato da esquerda fizesse umas declarações tranquilizadores que irritaram uma direita assanhada com a perda do poder para que uma boa parte da esquerda ingénua tivesse em Marcelo o homem certo para a presidência. Uma boa parte da esquerda, pode brincar às presidenciais multiplicando candidatura que o professor Marcelo ganha e todos podemos ficar tranquilos. Entre o Marcelo e a Belém uma parte da esquerda prefere Marcelo, o mesmo sucede quando se compara Marcelo com a rapariga com todos ou com Sampaio da Nóvoa, Marcelo é o denominador comum da direita e da esquerda.
Mas a verdade é que as declarações e afirmações de Marcelo nunca tiveram o dom da honestidade, em certos momentos até se pode questionar se Marcelo tem mesmo uma opinião ou se limita a pensar o que lhe convém dizer em cada ocasião. Hoje Marcelo diz que não derruba Costa, no dia em que chegar a Belém a primeira coisa que fará é pensar em como irá mudar o discurso para poder derrubar António Costa. Aliás, a direita que começou por ficar irritada com o oportunismo de Marcelo e já está unida em seu torno.
Temos, portanto, uma situação absolutamente ridícula, um candidato de direita que é apoiado mesma direita que há dias o excomungava, herdeiro político e afilhado do último ditador, desejado por uma direita que aproveita as presidenciais para brincar às sondagens e às presidenciais. Maria de Belém quer passar de assistente social a presidente, a Marisa quer saber quanto vale o Bloco, o Neto quer atazanar-nos os juízo e o Edgar quer segurar os 10% dos votos.
Parece que Marcelo não é o político que anda há trinta anos a viver de intrigas, que usou ao longo de meses o seu tempo de antena para destruir os adversários e agora diz que não gasta dinheiro na campanha, que organizou jantares na casa do Ricardo Salgado para lançar candidaturas presidenciais, que inventou almoços. É este o candidato implícito do PCP, do BE e de uma boa parte do PS; é este o candidato que uma esquerda idiota apoia de forma implícita. A esquerda não aprendeu a licença com Cavaco e prepara-se para mais dez anos de direita na presidência.
Marcelo vai enganar a esquerda que confia nas suas mentiras e os apoiantes de Passos Coelho pois esperará pela queda deste para derrubar o governo de António Costa.