Durante anos Cavaco Silva gabava-se do processo de privatização da banca que tinha conduzido, ainda que casos como a privatização do BPA, conduzido por Eduardo Catroga enquanto ministro das Finanças, tenha sido tudo menos exemplar. Cavaco nunca perdeu a oportunidade de exibir a banca como um exemplo das virtudes do sector privado e como o maior sinal do processo de modernização do país.
Hoje a tal banca de que Cavaco se gabava está em escombros, se não fossem as montras luzidias e as fachadas bem cuidadas das suas sedes teria uma imagem muito semelhante à das cidades da Síria depois de por lá passarem os vendedores de primaveras. A tal banca que era o sector modelo do cavaquismo empresarial está em escombros, o BES despareceu, o BCP está tuberculoso, o BPI vai sobrevivendo, o Montepio está cai não cai, o BANIF foi o que se viu, o BPN foi o que se viu. Sobrevive a banca estrangeira e a CGD. Curiosamente, ainda há poucas semanas Passos queixava-se de que a CGD não pagava o que devia ao Estado e escondia o buraco do BANIF.
A nossa banca privada, o tal sector exemplar, o modelo das virtudes empresariais do cavaquismo não passou de um sector altamente corrompido e corruptor, que durante anos criou um ambiente de promiscuidade entre banca, políticos e Banco de Portugal com o objectivo de maximizar os lucros, gerir o poder e não pagar impostos. Nomearam ministros e primeiros-ministros, escolheram presidentes, produziram leis favoráveis, beneficiaram despudoradamente de esquemas como a zona franca da Madeira, corromperam o Estado e o sistema político.
Aqueles de hoje se foge como se tivessem lepra são os mesmos que eram recebidos em Belém para saírem a falar mal do governo, que no passado foram em procissão a São Bento para exigirem a defesa dos centros de decisão nacional. O jet set do nosso sector privado não passa hoje de um bando de maltrapilhos ou de bandidos, gente que vive da mendicidade daqueles que há pouco tempo diziam que aguentariam tudo o que o seu poder decidisse.
O país aprendeu que a banca é um negócio perigoso, talvez mais perigoso do que se a força aérea, a armada ou o exército fossem entregues a empresários com os escrúpulos do Dias Loureiro, do Ricardo Salgado e de muitos outros. O resultado de mais de vinte anos de corrupção, vigarices, promiscuidade entre Estado e bancos é aquele que está à vista, se não fosse a CGD e um ou outro pequeno banco estrangeiro Portugal não teria sistema financeiro, o tal sistema financeiro de que o Cavaco se gaba e cuja estabilidade exigiu a Costa.
O que Portugal tem é uns quantos mafiosos armados em banqueiros uma meia dúzia de senhores que num dia presidem à CGD, no outro são administradores do BdP para depois irem presidir a associação de bancos, uma falsa elite de gestores que não passam em especialistas de gestão de influências. É por isso que a bana cobrou os juros que quis, que emprestou a quem lhe apeteceu, que não pagaram impostos e no fim está falida.
Com gente como a que lidera o BdP, com os gestores bancários formados na escola da corrupção, com políticos que andaram anos e anos a serem eleitos com a ajuda dos bancos a nossa banca privada não é um sistema financeiro, é antes uma associação mafiosa, uma associação de malfeitores apoiada em corrupção, compadrio e oportunismo.