Há já uma semana que se sabia que Paulo Portas pretendia apresentar uma moção de rejeição do programa do governo, uma parte do PSD opunha-se para não dar à esquerda a oportunidade de se apresentar unida, outra facção do PSD apoiava a ideia. De um dia para o outro o PSD decidiu avançar com a moção enquanto na comunicação social o CDS aparecia agora já não como mentor da ideia mas como apoiante da iniciativa do PSD.
Neste pequeno incidente cuidadosamente manipulado na comunicação social percebe-se como funciona a liderança da oposição da direita, Paulo Portas é o verdadeiro líder da direita e cabe a Passos Coelho dar a cara em função do maior peso do seu partido. A liderança da direita por parte de Paulo Portas nunca foi tão evidente.
Nos primeiros tempos do anterior governo Vítor Gaspar substituiu Ângelo Correia como mentor intelectual de Passos Coelho, enquanto esteve no governo Gaspar era apontado como o grande líder da direita e, talvez por isso, na carta de demissão o agora funcionário do FMI interrogava-se sobre o papel do líder. Com o incidente da irrevogabilidade revogável de Paulo Portas o PSD recuperou a imagem de líder de PSD, fazendo tudo para ridicularizar o papel de Portas.
Mas Portas teve a arte de chamar a si a liderança das pastas económicas , desde então a estratégia de comunicação do governo era conduzida por Portas. S Santinha milagreira da Horta Seca inventava o milagre económico, o Lambretas inventava emprego e o Núncio Fiscoólico inventava o reembolso da sobretaxa. Foram estes os argumentos usados pela direita até às eleições.
“Ganhas” as eleições Portas levou Passos a assinar uma coligação para o que desse e viesse, consolidando assim o seu ascendente sobre o líder do PSD. Para Paulo Portas este estatuto era tão importante que só depois de todos perceberem que o PS nunca apoiaria um governo da direita é que o líder do CDS teve um assomo de generosidade e ofereceu o seu lugar de número dois no governo a António Costa. Portas nunca teve tal intenção, mais importante do que estar ou não no governo é a liderança na oposição. Entre ter um líder do PSD dócil na oposição que faça o que ele quer e estar como ministro de um governo com o PSD e o PS Portas nunca hesitaria em escolher a primeira solução.
Portas conduziu a direita para o canto onde se encontra e é o seu verdadeiro líder, Passos Coelho é o líder fraco que Paulo Portas sempre desejou para o PSD, um líder com fragilidades intelectuais, com tiques de ultra-direita e dependendo do apoio do CDS para sobreviver. Neste momento é Portas que pensa e Passos faz que lidera, foi Portas que decidiu a apresentação de uma moção de rejeição, da mesma forma que foi Portas que se manteve fiel ao apoio a Marcelo Rebelo de Sousa quando muita gente do PSD já defendia outra candidatura de direita.
No passado Portas sonhou com Marcelo no governo com ele como tutor, nunca imaginou que poderia ter duas marionetas ao mesmo tempo, uma no PSD e outra em Belém. Esta é a jogada de toda uma vida política de Paulo Portas, liderar a direita, resta agora saber como se vai livrar de um empecilho chamado Pedro Passos Coelho.