O que une Passos Coelho e Catarina Martins? As cativações,
um mecanismo contabilístico que permite aos governos gerirem a despesa pública,
ajustando-a às possibilidades financeiras do Estado. E o que pretendem Passos
Coelho e Catarina Martins? Passos Coelho quer que se alguma coisa vier a correr
mal do lado da receita, o governo seja impossibilitado de compensar com um
corte de despesa, de forma a que se abra a porta ao tão desejado diabo.
Catarina Martins quer que a despesa seja rígida, sem qualquer possibilidade de
redução, ajudando Passos Coelho a abrir a porta ao mafarrico.
O tal senhor do rigor, do controlo das gorduras, dos tês
orçamentos retificativos por ano, quer agora que aconteça o que acontecer o
governo seja obrigado a gastar o que tem e o que não tem. Como o exercício de
2016 correu bem porque o ministro das Finanças ajustou a despesa em função das
receitas, de forma a cumprir com os compromissos internacionais, o líder do PSD
achou boa ideia retirar ao governo esse instrumento de gestão.
Passos Coelho estudou apenas a evolução das receitas, sabia
que o OE para 2016 estava armadilhado por via das retenções da fonte do IRS e
aos reembolsos de IVA que ficaram por fazer em 2015. Por isso andou os primeiros
sete meses de 2016 a exibir pelo país a pantomina do primeiro-ministro no
exílio. Estava certo de que Paulo Núncio
tinha deixado a armadilha bem montada, agosto seria o mês do buraco financeiro,
setembro seria o da divulgação desse buraco e, muito provavelmente, o do
segundo resgate.
Passos foi à lã e estava tão descansado e certo do buraco
nas contas públicas que acabou por ser tosquiado, Centeno sabia da sua
artimanha e não só cumpriu com o défice de 2015 como compensou as vigarices da
equipa de Paulo Núncio com um controlo da despesa. Fê-lo da forma que todos os
ministros das Finanças fazem, impedindo os serviços públicos de fazerem despesas
não urgentes, limitando os dinheiros orçamentados através das cativações. É
assim que se controla a despesa, por exemplo, no tempo de Ferreira Leite as
cativações obrigaram muitos funcionários a trazer o papel higiénico de casa,
sob penha de terem de limpar o rabo a folhas de papel A4.
Agora Passos parece um genro que espera que a sogra morra
num acidente rodoviário para receber a herança. Mas como a senhora, apesar do
excesso de velocidade consegue evitar os acidentes usando o travão, o genro
descobriu que o automóvel da sogra não deve ter travões, assim é tudo honesto,
se a senhora anda depressa deve ir contra uma parede. O estranho de tudo isto
não está na esperteza saloia de um líder partidário que enquanto gente está em
Massamá, mas como político já reside no Cemitério dos Prazeres. O ridículo de
tudo isto está no facto de a mecânica que vai tirar os travões ao carro da
sogra ser a Catarina Martins.