Qual a melhor estratégia para aumentar salários, estimular o crescimento e a criação de empregos ou promover aumentos administrativos de salários?
Para a esquerda conservadora o governo deve aproveitar a folga proporcionada pelo crescimento económico e pela manutenção da austeridade aplicada à classe média, para promover o aumento dos salários através de aumentos salariais no Estado, manipulação dos escalões do IRS ou alterações da lei laboral
Esta tese é a que de certa forma está a ser implementada pela Ordem dos Enfermeiros e pela organização sindical dos juízes portugueses. A lógica é a de correr ao pote enquanto há ainda algum mel para comer. EM vez de cuidar das abelhas há que conseguir a maior parte do mel que se formou. Não importa se a colmeia não sobreviva, desde que sejamos os primeiros a lambuzar-nos.
Consumida essa folga acaba-se a possibilidade de fazer qualquer política de distribuição dos rendimentos, os recursos do Estado e da economia já terão sido consumidos pelos que têm maior poder reivindicativo, pelos que estão melhor organizados ou pelos que têm mais poder sobre o governo ou sobre a comunicação social.
Com a economia a crescer e a mobilizar cada vez mais recursos humanos começam a haver sinais de escassez de trabalhadores para algumas funções. O fato de existirem 9% de trabalhadores à procura de emprego, não significa que para muitas profissões já se sintam problemas de escassez e esses problemas começam a ser um limite ao crescimento de muitas empresas. A solução passa por melhores salários para estimular a procura de emprego nessas profissões.
Se o aumento do desemprego trouxe uma baixa de salários, é natura que o movimento inverso resulte numa pressão no sentido do aumento desses mesmos salários. Com a livre circulação de trabalhadores na Europa e a consequente emigração em busca de empregos melhor remunerados, essa pressão sobre os salários é cada vez maior. Nem todos os novos 2.000 trabalhadores da Autoeuropa estão desempregados, muitos mudarão porque têm melhores condições, os seus atuais patrões terão dificuldades em substituí-los sem melhorarem também as condições que oferecem.
O que é mais inteligente por parte dos sindicatos da esquerda conservadora, matar a galinha de ovos de ouro ou procurar medidas que levem à criação de empregos com melhores salários. Os que estavam convencidos de que mais desemprego favorecia a descida dos salários, esqueceram-se de avaliar o impacto de um crescimento acentuado.