"Com tal força contra a retórica dos que no Governo querem realizar a revolução socialista que acabam por perder o pio, ou fingem apenas que piam mas não têm qualquer credibilidade”, Cavaco Silva
A presença de Cavaco Silva em Castelo de Vide apenas pode ser entendida como um ato de desespero de Passos Coelho. Com as intenções de voto a aproximarem-se dos 20% até um depauperado Cavaco Silva poderá dar uma ajudinha a um líder partidário que nem com os incêndios e falsos suicidas conseguiu aquecer nas sondagens.
Foi mais um dos muitos erros estratégicos de Passos Coelho, a intervenção de Cavaco Silva em nada ajudou o PSD e apenas evidenciou a desorientação da atual liderança do PSD. Cavaco fugiu da economia como o diabo foge da cruz, isto é, fugiu do único tema em que os seus admiradores ainda confiam nele.
Cavaco poderia ter tentado dar coerência técnica à teses de Passos de que os bons resultados da economia se devem mais às suas políticas do que à Geringonça. Mas Cavaco receou falhar nessa tentativa e depois de tantos anos a invocar os seus conhecimentos e experiência evitou o discurso económico. Cometeu um grande erro e em vez de ajudar Passos enterrou-o mais um pouco.
Cavaco nunca foi um pensador político, foi um bom manipulador e gestor da imagem, soube usar a imprensa em seu favor e passou a imagem do homem que faz obra, quando, na verdade, dava mais atenção às sondagens do que aos projetos e foi assim que acumulou vitórias. Sempre que Cavaco fez intervenções de natureza política foi um desastre, e sem contar com os bons assessores que teve no passado teve de ser igual a si próprio.
O resultado foi um desastre, o discurso quase neo-salazarista de Cavaco em nada ajudou um Passos Coelho cada vez mais identificado com a extrema-direita chique. Ao fugir dos temas económicos Cavaco reconheceu o falhanço do governo que apadrinhou e admitiu de forma implícita que os bons resultados da economia se devem às mudanças na política económica.
O discurso de Cavaco mais não foi do que o atirar a toalha ao tapete, Cavaco teve receio de enfrentar Mário Centeno, um economista que está brilhando a um nível que Cavaco nunca brilhou. Cavaco usou o convite desesperado de Passos no seu próprio proveito e falhou, enterrou-se e enterrou Passos mais um bocadinho.