O maior erro cometido nos últimos anos pela esquerda e, em particular, pelo PS foi não terem tido a coragem de exigir toda a verdade sobre o que se passou durante o governo de Passos Coelho, optando por simplificar as coisas como se o que distinguisse a direita da esquerda fosse a dose de austeridade ou o tipo de austeridade adotada.
Todas as medidas adotadas por Passos Coelho foram imposição da Troika ou muitas delas encobriram uma reformatação da sociedade portuguesa feita pela calada e com o acordo tácito da Troika e, em particular, do BCE? Todas as medidas adotadas estavam devidamente avaliadas ou os portugueses foram sujeitos a experiências económicas? Quem sofreu mais com a austeridade, que grupos profissionais foram mais atingidos, qual a perda de rendimentos em cada escalão de rendimentos? O aumento das exportações resultou de um aumento de competitividade ou da diplomacia económica da seita do Paulo Portas ou foi um movimento assente em apostas feitas no passado?
Para que este estudo seja feito é necessário tornar públicas as conversações e acordos do governo com a Troika. O CDS e o PSD exigiram-na negociação inicial, mas ao longo de quatro anos invocaram sucessivas alterações do memorando como fundamento de medidas de austeridade, sem que nada tivesse sido tornado público. É muito provável que não haja uma ata das muitas reuniões realizadas ou a transcrição de muito telefonema, estes quatro anos serão, muito provavelmente, a maior branca na história de Portugal.
Este erro da esquerda, preferiu transformar a luta política numa luta ideológica, como se tudo o que se passou tivesse sido normal num governo de direita, tem como consequência que ouçamos sucessivas declarações falsas de Cristas e de Passos Coelho. Isso está sendo especialmente óbvio nos comentários de Passos Coelho e de Cristas em relação à alteração do rating da dívida decidido pela S&P.
Este Governo fala muito na alteração da orientação económica como se o que se passou fosse apenas uma alteração de rumo, permitindo a Marcelo que fale em continuidade e fundamente o sucesso económico nessa mesma continuidade.
O que se passou durante o governo de Passos Coelho foi muito mais do que austeridade ou políticas p+revistas no memorando. Muitas das medidas mais duras não estavam em qualquer memorando, foram o resultado de uma experiência feita pela calada e inspiradas no pensamento de ultra direita de personalidades como o falecido António Borges e Vítor Gaspar. É tempo de o país saber toda a verdade e fazer uma avaliação rigorosa do que se passou e está a passar.