Um dos aspetos mais curiosos da vida política portuguesa reside no fato de uma boa parte dos intervenientes filtrarem as suas ideias, escondem as suas ideologias, em vez de dizerem o que pensam dizem o que é vendável ou o que os outros esperam ouvir. Passos Coelho não é da extrema direita chique, é social-democrata. Os do BE não são trotskistas, marxistas-leninistas ou maoistas, são de tudo um pouco e usam bandeirinhas de todas as cores. O PCP detesta ditaduras e é o maior defensor da democracia. Os do CDS são todos republicanos.
Todos sabemos que tudo isto é mentira, mas andamos a fazer de conta que não sabemos. A esquerda conservadora detesta a ditadura do proletariado, não há extrema-direita porque a direita ou defende os valores da igreja católica ou é social-democrata. E quando alguém diz alguma coisa que passa dos eixos ouvem-se muitos gritinhos de indignação.
Animado pela grande vitória na Autoeuropa e pelos testes nucleares bem-sucedidos na Coreia do norte, Jerónimo de Sousa deixou o pé fugir para a dança e foi à Festa do Avante fazer um discurso inflamado de defesa implícita da Coreia do Norte, as massas aplaudiram como se estivesse a libertar algo que lhe ia na alma e andava reprimido. De certa forma foi positivo, é tempo de o PCP assumir todas as suas ideias e deixar-se de vidas duplas. É tempo do PCP tirar o comunismo do armário e deixar de recear concorrer às eleições com a sua sigla.
Os campeões da farsa é o BE, quem os ouve até aprece que são uma espécie de Provedor Remédios da democracia. De um dia para o outro o estalinismo, o trotskismo e o maoísmo não só de uniram, como dessa união resultou um novo produto destilado, defensor como ninguém da democracia e de tudo o que seja bons valores, desde a eutanásia á defesa da homossexualidade. Até aqueles que eram considerados lumpen proletariado, são agora espécies que merecem a defesa da sociedade.
Às mentiras típicas da vida política junta-se este jogo de sombras onde cada político e partido não diz o que pensa nem pensa o que diz. É um mundo de mentira e de faz de conta, sem debate de ideias, onde tudo são rasteiras e simulações. De certa forma o discurso de Jerónimo de Sousa na Festa do Avante devia merecer um grande elogio, foi dos poucos políticos portugueses que alinhou o discurso com o pensamento.