A meio da legislatura e feitas as contas às autárquicas só há uma coisa a dizer a Passos Coelho: "Burro!". A sua estratégia não foi só errada, não foi apenas egoísta ou criminosa do ponto de vista do futuro do PSD, revelou claramente que o líder do PSD tem boa voz, sabe articular bem os discursos, lê bem o s papeis que desempenha e que lhe escrevem, mas exibe uma falta de recursos intelectuais que chega a ser confrangedor. Sem Relvas, sem os assessores que eram pagos pelo Estado quando era primeiro-ministro, sem sínteses e dossiers organizados por gabinetes ministeriais, sem o apoio de personalidades bem remuneradas como o falecido António Borges, é como uma marioneta com quase todos os fios partidos, é uma gerigonça descontrolada e mal amanhada.
Para conseguir o que Passos fez aos seus candidatos autárquicos seria necessário odiar muito o seu partido e conseguir embebedar o seu líder. Mas Passos Coelho fez tudo por sua livre vontade, lixou a amiga que escolheu para candidata, atirou-a aos bichos, atrasou ao máximo a sua apresentação e quando apareceu ao seu lado foi mais para ter tempo de antena do que para apoiá-la. Nunca um candidato autárquico português foi tratado de forma tão desprezível como sucedeu em Lisboa.
Ao pensar que bastaria conquistar mais dois ou três pequenos concelhos ou juntas de freguesia para dizer que tinha ganho as eleições autárquicas desprezou o processo eleitoral nas grandes cidades, a começar por Lisboa e Porto, onde faltou ao respeito dos seus eleitores, apresentando candidaturas que ele próprio desprezou. Foi deprimente ver Teresa Leal Coelho no jantar de ontem dizendo que o PSD estava ali, o que estava naquela sala era meia dúzia de populares arregimentados mais duas ou três personalidade que foram jantar só que não sejam acusados de não terem participado na campanha.
A dois dias das eleições o PSD atirou a toalha para o tapete na generalidade dos concelhos e na capital arrisca-se mesmo a ter tantos votos quanto o PCP ou o BE pois com as últimas sondagens o resultado mais provável será o aumento da abstenção ou o voto na candidatura de Cristas, por parte do que resta do seu eleitorado mais fiel. Mesmo perante a desgraça Passos insiste no seu discurso sem sentido, como se a Geringonça tivesse tomado posse ontem.
Passos parasitou os seus candidatos autárquicos, disse que não tirava conclusões dos resultados autárquicos no plano nacional, mas a verdade é que ignorou totalmente as candidaturas autárquicas para tentar recuperar a sua imagem a qualquer custo. Os candidatos não organizaram as apresentações, jantares, arruadas e comícios para convencer os eleitores, foram forçados a fazê-lo para proporcionar tempo de antena a um Passos Coelho que todos os dias repetiu discursos patéticos.
O mesmo fizeram os seus adversários, quando apareceram na campanha em apoio dos candidatos estavam a aproveitar-se dos candidatos autárquicos para se colocarem na pole position para um ataque à liderança de Passos Coelho, Foi o que fez Rui Rio, mas também Santana Lopes e outros.
Resta uma pergunta, onde anda Cavaco Silva? O homem dos roteiros, o presidente que mais parasitou a imagem das autarquias e que há pouco tempo apareceu em castelo de Vide para tentar ajudar Passos Coelho, agora foi dos poucos ex-presidentes do PSD a não darem a cara. Mal sinal, até parece que Passos Coelho é mais um cadáver no longo rasto de vítimas da carreira política de Cavaco Silva.