Marcelo foi a Andorra para brincar com Passos Coelho enquanto lhe mandava um recado, queixa-se o Presidente em tom de brincadeira que de vez em quando dá umas guinadas à direita e por cá ninguém repara, sugerindo que PSD e CDS não aproveitavam a boleia. A mensagem era clara, ainda que transmitida em tom de brincadeira e lembrando os melhores tempos de Marcelo, quando se divertia a criar fatos políticos.
Se fosse em tempos de fartura de poder Passos Coelho teria dito logo “estão a ver, o gajo é mesmo um catavento, nunca se sabe para que lado o vento vai soprar!”. Mas depois de dois anos de sofrimento e com tudo a correr-lhe mal Passos deixou de ser o primeiro-ministro arrogante, convencido que sem o seu apoio ninguém seria presidente. Agora é uma espécie de sem abrigo, um líder político sem ideias, que anda nos caixotes do lixo das ideologias em busca de salvação, ultimamente até se tem sujeitado a apoiar o Ventura e a praguejar contra os imigrantes, o equivalente para um” social-democrata” a comer uma sopinha servida pela Isabel Jonet.
Desta vez Passos Coelho engoliu o orgulho e comeu o pão que o diabo amassou, esqueceu mais de dois anos de ofensas, deixou para trás o orgulho ofendido com a dispensa de participar nas presidências e a raiva de ver Costa a segurar o chapéu de chuva para que Marcelo não ficasse molhado com a morrinha que caiu e aproveitou o discurso de Marcelo.
Em mais um momento de Pilatos Marcelo elogiou os dois governos a propósito da notação da S&P e Passos não perdeu tempo para deixar de andar à bolina, para andar de vento pela poupa. Curiosamente, Marcelo não partilhou a opinião de Passos, que desta vez em vez de praguejar contra as reversões chamou a si todo o mérito, culpando o atraso de dois anos. Mas Marcelo engoliu em seco e colou-se rapidamente a Marcelo.
Resta agora saber se Marcelo se cola a um Passos cuja agenda política recorre cada vez mais a causas típicas do populismo da extrema-direita ou se prefere dar uma contra guinada à esquerda fugido de Passos como se fosse sarna. Enquanto a própria Assunção Cristas de demarca de Passos, deixando de apoiar a candidatura a Loures e tendo um discurso mais convergentes em temas como a imigração ou o OE, Passos não perdeu tempo para aproveitar as lufadas vindas de Belém e foi a Viana do Castelo iniciar a campanha autárquica com a sua nova bandeira da imigração.
Parece que Passos aproveita o discurso de Marcelo de uma forma estranha, cada vez que o Presidente dá uma guinada à direita Passos dá outra para a extrema-direita e se não fossem os rapazes esganiçados da JC até se diria que a social-democrata é a líder do CDS. Quer em Lisboa, quem no resto do país a Assunção Cristas esta á ganhar aos pontos a um Passos Coelho que com os assessores a fugirem dele começa a ser um político vulgar e sem ideias que tem de recorrer ao Aguiar-Branco para parecer alguém.