Morreram mais de 509 portugueses nas estradas, muitos por culpa própria, alguns por excesso de álcool, outros por causa das condições das estradas, provavelmente até porque a ação policial está mais virada para a receita fácil das multas do que para combater a sinistralidade.
Morreram um ou dois de cada vez, hás vezes mais um ou outro, sem grande alarido, sem direito a missas coletivas, sem a presença de bispos e arcebispos, sem associações de vítimas, muito simplesmente foram morrendo, como se tivessem gripe ou com se fossem mortos pelos maridos. Morreram e à medida que uns iam morrendo os outros iam sendo esquecidos.
São mortos que não contam, não se sabe se eram do interior ou do litoral, se eram culpados ou apenas vítimas, se o Estado foi ou não responsável, morrem e “prontsh”, venham mais. Desde o dia 1 continuaram a morrer a bom ritmo, o emigrante que se despistou, os jovens que bateram na berma na saída da autoestrada, a jovem que iam de motorizada, todos os dias têm morrido, continuam a morrer a bom ritmo e tranquilamente.
Há aqui qualquer coisa de errado, em 2017 morreram 579 portugueses sem direito a um abraço, a uma selfie, a um ar sofrido, a um beijo no anel do arcebispo, a uma única lágrima anónima. Morreram mais 56 do que em 2017, diria que os que foram vítimas deste aumento estatístico são mais do que “um Pedrógão”, mas mesmo assim ninguém se preocupa.
A estes poderíamos acrescentar outros que são ignorados, por exemplo, em 2017 morreram 115 trabalhadores, não sei se abnegados e sacrificados, simplesmente morreram em acidentes de trabalho, em muitos casos por culpa dos patrões e muito provavelmente da inércia de quem devia fiscalizar.
E ainda faltam muitas vítimas de que pouco se fala, desde as vítimas de violência doméstica aos que morrem na fila da lista de espera para a cirurgia, o que não falta em Portugal são vítimas. Mas há as que levam os arcebispos a rezar missas e as que são ignoradas pela televisão, pelo cardeal e pelos que ainda há meses atrás inventavam suicídios e falsas vítimas.
Enfim, são vítimas que morrerm duas vezes, a primeira vítimas de acidentes, homicídios ou desleixo coletivo, a segunda vez foram vítimas do esquecimento e do desprezo.