Ainda há poucos dias a Procuradora-Geral era elogiada por toda a direita por ter atacado os poderosos, entendendo-se por poderosos um ex-primeiro-ministro sem funções num partido da oposição e um banqueiro arruinado e caído em desgraça na banca e na sociedade, falido e sem amigos.
O mais divertido é dois dos poderosos que mais se podem queixar da coragem da Procuradora-Geral é um procurador que não resistiu à tentação das guloseimas e um ex-vice presidente de Angola. Não deixa de ser estranho que com tanta gente a elogiar a coragem da Procuradora-Geral, ninguém da direita se tenha lembrado destes dois exemplos. Porque é preciso coragem para destruir as relações com um país amigo que tem sido um verdadeiro abono de família e para prender um colega de uma instituição que estava acima de qualquer suspeita.
Com tanta gente a lambuzar-se em Angola, desde modestos kuanzeiros a ex-ministros superpoderosos em governos do PSD é divertido ver como toda esta gente elogia a Procuradora-Geral em público, enquanto em privado rezam para que alguém faça alguma coisa.
Já se percebeu que a PGR não recua no caso do ex-vice-presidente de Angola, não só avança com a acusação como ainda ofende o nosso parceiro de muitas aventuras, dizendo que em matéria de justiça é gente de pouca confiança. Isto é, o dinheiro dos angolanos é de confiança, o apoio deles a uma CPLP que sem Angola perdia todo o interesse é bem-vindo, agradece-se que importem muito e nos levem os excedentes de quadros, o problema está na justiça.
Não importa que muitas empresas portuguesas entrem em dificuldades, que a CPLP imploda, que Portugal perca um dos seus grandes parceiros à escala mundial, uma potencia regional e um dos países mais ricos do mundo. O que importa é levar o ex-presidente de Angola a julgamento e em Portugal, não se sabe muito bem quando e muito menos se vai ser condenado. Mesmo que seja condenado isso só serve para o impedir de viajar para países com os quais Portugal tenha um acordo de extradição.
Vai ser muito divertido ver como é que os que há duas semanas defendiam a senhora Procuradora da tentativa de destituição a prazo por parte da ministra da Justiça, curiosamente uma angolana de uma família que no passado foi vítima do regime, vão agora conseguir que a Procuradora-Geral deixe a vida do poderoso angolano em paz.
Veremos como é que estes kuanzeiros vão defender os bons princípios que andavam a apregoar. Veremos se vão defender a Procuradora-Geral em público, equanto em privado farão pressões sobre o presidente e o primeiro-ministro para se verem livres delas.