O PS escolheu o seu líder abrindo o direito de voto aos seus simpatizantes, o PSD optou por limitar a escolha aos inscritos no partido. Se no PS os candidatos tentaram mobilizar os simpatizantes da sua área, a verdade é que muitos simpatizantes se dirigiram às mesas de voto por sua própria iniciativa. No PSD o processo está limitado à “arregimentação” de militantes pelos caciques que apoiam cada um dos candidatos, ganha aquel que conseguir pagar a quota de mais militantes adormecidos ou que conseguiu inscrever mais novos militantes dentro do prazo estatutário. Quando Santana Lopes pediu mais tempo por partir atrasado estava mais preocupado com a possibilidade de pagar mais quotas ou inscrever mais falsos militantes.
Os modelos de eleição geram processos muito diferentes quer nos truques, nas motivações dos eleitores e nos temas dos debates. Há ainda um outro aspeto importante, no PSD quem ainda manda no aparelho, são as lideranças locais e distritais eleitas no tempo de Passos, têm um peso determinante na escolha do próximo líder. Isso explica as manifestações de vassalagem dos dois candidatos em relação a Passos Coelho e, no caso de Rui Rio, até à Maria Luís Albuquerque.
A prazo a situação é ainda mais ridícula, teremos um novo líder mas as estruturas controladas por Passos Coelho escolherão a maioria dos candidatos a deputados nas próximas legislativas. Antes disso será a máquina de Passos Coelho a escolher a maioria dos delegados ao próximo congresso. EM vez de um congresso para projetar o próximo líder e mostrar no que ele é melhor e diferente do antecessor, teremos uma romaria de homenagem a Passos Coelho.
O modelo de escolha no PSD leva a que os candidatos em vez de explicarem porque serão melhores do que o líder caído devido aos maus resultados eleitorais, digladiam-se tentando demonstrar que são mais próximos e se identificam com o líder que eles próprios ajudaram a expulsar, um porque sempre criticou, o outro porque lhe tirou o tapete nas autárquicas de Lisboa.
Os militantes e simpatizantes do PS escolheram o líder que consideraram ter o melhor projeto para o país ou com o qual se identificavam mais. No PSD os candidatos debatem quem é que no passado foi mais fiel ao PSD, ganha aquele que nunca apareceu em iniciativas que não fossem do líder do PSD, aparecer ao lado de um militar que ajudou a fazer o 25 de Abril e que depois mais se bateu pela democracia é equivalente a parecer ao lado de um traficante de droga, só porque esse militar ousou criticar uma personagem como Passos Coelho.
As diretas no PS nem sempre foram um modelo de virtudes, os ataques pessoais dirigidos durante a campanha, com alguns apoiantes de Seguro e o próprio Seguro a fazer insinuações, não poupando mesmo os autarcas. No PSD os candidatos tentam dar lições de cortesia, mas a verdade é que o debate entre os dois apenas serviu para escolher o que tinha mais jeito para dar golpes baixos. O mais incrível é que alguns dos comentadores mais sérios do país consideraram Santana um grande vencedor só porque é mais sujo nos ataques. Triste sorte a de um partido cujo líder se afirma desta forma.