Em 2013 precisei do Hospital de Faro, do Centro Hospitalar Universitário de Faro, passei o mês de agosto na Unidade de Cuidados Intensivos e o mês de setembro na enfermaria de pneumologia. Na sequência da passagem pela UCI sofria de uma tetraplegia dos cuidados intensivos, pelo que quando fui dado como curado da pneumonia segui para reabilitação no CMR Sul, em São Brás de Alportel.
Conheci aquele que era um dos melhores centros de reabilitação à escala europeia, estava classificado nos primeiros dez por certificações internacionais. Era uma unidade gerida com competência, dirigida por uma diretora clínica que fiquei a admirar, contava com uma equipa de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e auxiliares de excelência, que mereceram a minha admiração e consideração e que hoje recordo com gratidão e carinho.
Na ocasião era uma maldita PPP e quando foi necessário renovar o contrato um Tribunal de Contas dirigido por um tal Guilherme impediu essa renovação. Desde então a qualidade caiu a pique, se em janeiro de 2014 engoli um sapo e elogiei o ministério de Paulo Macedo, em junho de 2015 vomitei esse mesmo sapo e denunciei aqui a quebra de qualidade.
O que eu nunca imaginei foi que a perda de qualidade fosse ainda mais longe e assistisse hoje ao que ouvi o PS denunciar durante anos, que Paulo Macedo andava a encerrar enfermarias menos visíveis. É precisamente o que está sucedendo em São Brás de Alportel, destruindo-se uma das melhores unidades de saúde do país. Mas como o que conta é o que sai na comunicação social, não faz mal que cidadãos condenados a estar numa cama depois de um AVC aí continuem, porque com esses a bastonária dos enfermeiros não anda à bastonada.
A imagem mostra o segundo piso do CMR Sul encerrado, luzes apagadas, corredores vazios, são metade das camas de internamento desse centro que foram eliminadas para poupar. Compreende-se a manobra, como o CHUF está mais preocupado com o que sai nos jornais, encerra serviços que estão longe das vistas, escondidos no meio do campo em São Brás de Alportel.
Como apoiante desta solução governativa, como português e como utente que viu entrar naquela unidade doentes que nem se mexiam e depois saiam pelo seu próprio pé, sinto vergonha de reproduzir aqui a foto do piso onde estive internado e onde fui feliz durante um mês. Revolta-me que haja doentes nos hospitais ou em casa, a aguardar durante meses por uma vaga para serem reabilitados. São doentes que passaram pelos cuidados intensivos, vítimas de um AVC ou de acidentes rodoviários e mesmo jovens que em brincadeiras de praia foram parar a uma cadeira de rodas, no meu primeiro dia de CMR Sul vi alguns a aprenderem a usar uma cadeira e vieram-me as lágrimas aos olhos.
O SNS não pode ser gerido para a fotografia da comunicação social ou para manipular listas de espera. É por isso que da mesma forma que denunciei o que se passou com o Macedo tenho a obrigação de denunciar o que está a fazer o Adalberto, aliás, farinha do mesmo saco. Pior ainda, se o Macedo geriu mal, a atual equipa vai mais longe e está a destruir o CMR Sul. Aquilo que se passa em São Brás de Alportel é uma vergonha e é por isso mesmo que me sinto envergonhado, espero que alguém no ministério do Adalberto tenha os mesmos valores que eu tenho e sinta a mesma vergonha que eu sinto.
Há uma velha anedota que conta que um compadre teve a brilhante ideia de habituar o burro a passar sem comer. Quando já estava ter sucesso porque poupava a ração com que alimentava o animal foi surpreendido, logo agora que tudo corria bem o burro morreu. O país não vive neste momento a situação financeira de 2011 ou de 2012, nada justifica a destruição do nosso melhor centro de reabilitação, só para que os administradores do CHUF mobilizem recursos para os serviços que geram mais queixas.
