sábado, dezembro 01, 2012

Ai aguentam, aguentam


Quando os funcionários públicos perderam 10% dos seus vencimentos, todos os outros portugueses ficaram calados, muitos aprovaram pois por um motivo ou outro odeiam o Estado. Somos um pais de empresas pouco competitivas e que fugimos ao pagamento dos impostos, mas exigimos ao Estado uma qualidade que não temos nas nossas empresas e queremos que o Estado nos dê aquilo a que nos furtamos a pagar.
 
Os meus amigos pensionistas deram-me palmadinhas de conforto nas costas, que a medida era justa. Mas quando cortou os subsídios aos funcionários e pensionistas os meus amigos substituíram as palmadinhas pelo ranger de dentes, ranger de dentes que aumentou de intensidade quando souberam que lhes ia ser igualmente aplicado o corte de 10%.
 
Mas se os pensionistas entraram no clube dos inúteis da sociedade portuguesa o sector privado ainda vivia fora da austeridade, Portugal passou a ser um país com dois sistema, de um lado o sector dos produtivos e do outro os dos inúteis, odiados pelos liberais do governo e eleitos para serem as vítimas da sociedade. Haviam estudos a provar que eram malandros e que ainda por cima ganhavam mais, enfim, eram uma espécie de gregos a viver em Portugal.
 
O Cavaco, um dos nossos colecionadores de pensões a cujo rendimento juntou o conforto de lucros asiáticos nas suas acções de uma empresa falida e gerida por criminosos, achou que não se tinha de preocupar com os direitos dos nossos “gregos”, estes eram ricos e não seria a eles que se referia quando dizia que haviam limites para a austeridade. Havia coisas mais importantes a tratar, como a libertação do Estado, de que a venda em regime acelerado do Pavilhão Atlântico foi o exemplo simbólico. Tudo estava a correr bem, o homem das finanças da campanha presidencial e emissário junto da candidatura de Passos Coelho já ganhava 50.000 na EDP e o Pavilhão Atlântico ficou na família a preço de saldo.
 
Só que a Europa arrastou os pés, os preços dos combustíveis subiram, os portugueses encolheram-se nas lojas, as exportações começaram a cair e o Álvaro não percebeu que os estivadores não tinham medo dele. As contas afundaram-se e estavam criadas as condições para o Gaspar seguir com a sua estratégia de transferência de riqueza, em vez de baixar a TSU, aumenta o IRS e baixa o IRC. A desvalorização fiscal dos trabalhadores para criação de lucros artificiais às empresas que não souberam ou não quiseram ser competitivas continua em marcha.
 
Afinal a estratégia do Gaspar não era lixar a Função Pública, era lixar todos os portugueses e quando se percebeu a manobra é o ai Jesus. Os mesmos jornalistas que escreviam artigos sugerindo uma ditadura do Gaspar, um salazarismo começado por “g”, estão agora indignados, vão provar da mesma receita que aprovaram quando era para consumo exclusivo de funcionários públicos. Todos os que apoiavam o Gaspar com ar de grande sacrifício, até parecia que sofriam todos de um abcesso no dente do siso, estão agora revoltados com o excesso de austeridade.
 
Sejam bem-vindos à austeridade. Aqueles que apoiaram o corte de mais de 30% do rendimento aos funcionários e pensionistas certamente que aguentam mais austeridade, como diz o Fernando Ulrich  "Ai aguentam, aguentam". E agora é a vez de os patrões exigirem que no privado hajam condições idênticas no Estado, aí não há cartões visas para despesas pessoais, carros de serviço nas garagens do supermercado, prémios no fim do ano, ou outras benesses.
  
Os portugueses estão caindo que nem patinhos na estratégia de Passos Coelho de impor o seu modelo neo-fascistas divindo os e lançando deliberadamente o país na maior crise financeira da sua história.