O memorando tem costas largas, tudo o que de mau o governo
impõe aos portugueses fá-lo penosamente obrigado pelo memorando, a entrega da
soberania nas mãos de funcionários de segunda linha de organizações
internacionais de que Portugal é membro de pleno direito resulta do memorando,
o excesso de austeridade está no memorando, até os falhanços do Gaspar resultam
de ele em vez de adoptar as suas ideias está agarrado ao memorando.
O mesmo governo que não queria mais tempo ou mais
dinheiro foi forçado a aceitar mais tempo e um dia destes aceitará mais
dinheiro, tudo por culpa do memorando e de quem o negociou. O memorando
encobriu o nosso céu noturno, tudo o que nos sucede e vai suceder deixou de estar escrito nas estrelas, foi
escrito no memorando. E, como se sabe, Passos Coelho nada tem que ver com o
memorando, o Catroga só reparou no capítulo da privatização da EDP e o pobre do
Gaspar não teve a oportunidade de chegar a tempo de salvar o país, pondo o seu
brilhantismo intelectual ao serviço do memorando.
Por exemplo, estava no memorando que em 2011 os
portugueses eram uma gandulos que se divertiam enquanto os pobrezinhos dos
alemães trabalhava e por isso não tiveram tolerância de ponto natalícias e muito menos para irem para
a farra. Mas como o memorando já previa que quando Gaspar chegasse a ministro
este país até iria cheirar mal com o suor de tanto trabalho, para não referir a
correria dos muitos que procura emprego, já lá estava que em 2012 teriam
tolerância de ponto, até porque este ano as datas calhavam a uma terça-feira.
Ao que parece em 2013 o Carnaval também vai calhar a uma terça, há
coincidências do caraças, e é muito provável que o memorando já preveja que
nesse ano podemos brincar graças a uma generosa tolerância.
O corte dos subsídios, a diluição de tudo o que o
Gaspar gosta de receber mas que acha abusivo os outros terem, a redução dos
feriados, o ódio ao dia da Independência Nacional e ao da República, o aumento
brutal do IRS, a tentativa de roubar aos trabalhadores para dar aos patrões, as
propinas no secundário, é tudo decisões imaginadas pelo José Sócrates, essa
figura maldita, o pobre do Passos limita-se a dar a cara por decisões contra as
quais sempre foi.
O que não estava no memorando são outras coisas que
andam por aí a tentar convencer-nos de que lá estavam. Gente mal intencionada
insiste em falar do corte das gorduras do Estado, nas rendas excessivas da EDP,
da eliminação do excesso de autarquias, da cobrança das contribuições para a
Segurança Social pela Autoridade Tributária e Aduaneira, o fim do regabofe dos
regimes fiscais das fundações, a eliminação de institutos e outros serviços
estatais desnecessários. Enfim, uma data de coisas que não constam do memorando
e alguns querem impor ao país.