Quando o país mais precisava de união o líder do PSD promove
o confronto, quando o país carece de solidariedade a extrema-direita ideológica
no poder promove a caridade, quando o país precisava de estabilidade a coligação
é o exemplo de instabilidade, quando o país mais precisava de competência o
governo parece um livro de anedotas, quando o país clama por justiça a
impunidade prometida pela ministra da Justiça é a continuação dos autos de fé
no meio da rua, quando o país precisa de diálogo o governo aposta na repressão,
quando o país precisa de todos o governo quer expulsar os jovens quadros,
quando o país devia apostar na modernização o governo desvaloriza o ensino.
É fácil governar contra todos desde que se tenha a arte de
atirar uns contra os outros. Em condições normais isso não seria possível e um
governo cairia em menos de um mês, mas com um acordo com a troika assente num
memorando cada vez mais secreto e onde não se consegue distinguir as imposições
internacionais dos fretes pedidos pela direita no poder , contando ainda com um
Presidente fraco e tolhido de mdeo, é fácil continuar a destruir um modelo
social e político.
Inventa-se um estudo e apontam-se os funcionários públicos
como os xulos que conduziram o país à miséria, por isso impõe-se a austeridade
aos funcionários e o resto do povo ou apoia, ou aplaude ou fica cobardemente
culpado. Ainda bem que é o vizinho do lado que paga. Mas a austeridade imposta
aos funcionários não bastou, é preciso arranjar mais culpados, é a vez dos
aposentados, esses malandros que nunca mais morrem e vivem à custa dos que
trabalham. E junto aos aposentados vão também os pensionistas. Alguém discorda?
O Presidente não gostou, o Tribunal Constitucional po0de declarar a sacanice
institucional? Atira-se a populaça contra os reformados, eles são uns malandros
que vivem à grande e à francesa sem terem descontado para tão boa vida!
Pouco importa que o governo não tenha feito um ajustamento
nas pensões, mas sim um imposto que incide sobre o que sobra das pensões depois
destas terem sido cortadas, o que importa é usar a propaganda e atirar os
reformados para a fogueira com a populaça a aplaudir em êxtase por mais este
espectáculo. Mas a populaça não espera pela demora, já faltou mais para que o
governo venha dizer que se o Zé povinho pode embebedar-se em minis e copos de
quarto também pode pagar as escolas, os hospitais e tudo o mais que são borlas
do estado. A guarda laranja da revolução até já está em movimento exigindo o
fim destas borlas, tudo em nome do grande mau, o mauzão do Passos Coelho.
A forma mais fácil de governar é dividindo, é atirando
portugueses contra portugueses, padres contra laicos, ricos contra pobres,
militares contra civis, trabalhadores no activo contra reformados, funcionários
contra trabalhadores por contra de outrem, médicos contra doentes, polícias
contra manifestantes, directores de informação contra parlamento, PSD contra
CDS, primeiro-ministro contra Presidente, presidentes de câmara contra presidentes
de freguesia. Numa casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, não
faltam motivos para lançar uns contra outros enquanto o governo vai destruindo
o que resta de um país. Isto pode acabar em guerra civil? Não faz mal, o
pessoal do governo já se acautelou, o dinheiro já deve estar lá fora, o Álvaro
põe-se num instante no Canadá, o Gaspar será resgatado pelo coxo de Bona e o
Coelho conta com a rede do Ângelo Correia. Se isto acabar em guerra civil cada
um foge como pode e ala que lá vou eu.