Depois de décadas a sofrer finalmente a extrema-direita vai
ter o seu Natal, quase 40 anos depois do 25 de Abril a direita mais
conservadora está novamente no poder, podem finalmente celebrar um Natal com
imensas oportunidades para praticarem a caridade num país onde se condena a
solidariedade, até podem lembrar-se de outros tempos pois têm como
primeiro-ministro alguém para quem a história não transformou colónias em países
independente e ainda fala do Ultramar.
Graças a uma crise financeira desencadeada pelo grande
capital mais oportunista e com a a ajuda de gente cinzenta, uma nova geração de
extrema-direita que nasceu e cresceu nos gabinetes sombrios de organizações
como a Comissão Europeia ou o FMI a extrema direita piedosa pode finalmente
governar contra a vontade do povo. O povo bem defende equilíbrios sociais, até
votou esmagadoramente em soluções democráticas, mas o povo pouco conta.
O que conta são as ideias do Gaspar, ninguém as conhece,
ninguém teve a oportunidade de as discutir, ninguém foi chamado a votar nelas,
mas as ideias do Gaspar não são para o povo que só sabe trabalhar e é para isso
que serve. As ideias do Gaspar são demasiado complexas, exigiram grandes
estudos e muitos sacrifícios, não é coisa que se deite fora só porque a
populaça não as entendeu e decide votar contra. As ideias do Gaspar são superiores
demais para irem a votos.
E se o Gaspar quer conseguir algo ainda melhor do que a
escravatura então temos de o apoiar, por mais que falhe nas previsões ou que
destrua a economia temos de o elogiar, o que importa é o Gaspar defende algo
que ninguém ousava defender desde os anos 20 do século passado, o povo deve ser
pobre e pagar tudo o que consome. O que o Gaspar está conseguindo é um milagre,
é o regresso da escravatura mas sem que os donos dos escravos tenham de os
vestir e alimentar e sem que os próprios escravos possam querer libertar-se
pois na aparência são livres.
Nunca a extrema-direita imaginou vir a festejar um Natal ,
para ser perfeito só se conseguíssemos as colónias de volta, se como Passos diz
Portugal pudesse voltar a ter Ultramar. Mas já que nem tudo é possível então
que se festeje o que se tem, que é muito mais do que alguma vez a
extrema-direita imaginou. Governa como se fosse uma ditadura mas graças a uma
democracia, tem trabalhadores escravos mas nem precisa de cuidar deles e o
Gaspar até vai exigir que sejam os escravos a pagar as contas da escola e do
hospital, até nem se sente a falta do Carmona, aquele que quando
primeiro-ministro subia às palmeiras agora que é velho e presidente parece
sentir-se melhor num bananal com vista para o Pavilhão Atlântico, não foi obra
sua mas agora é da família.