quarta-feira, dezembro 05, 2012

O PREC da direita


Quem ouviu os discursos do último congresso do PCP sentiu-se a fazer uma viagem de regresso ao passado, viu o contador do tempo recuar a 1975 e nem faltou a evocação de Álvaro Cunhal para criar um ambiente mais realista. Mas acusar Jerónimo de Sousa de ser um ortodoxo porque depois de décadas com o comunismo na gaveta ter voltado a ser um líder comunista digno dos tempos da ex-URSS é ignorar que o líder do PCP mais não faz do que acompanhar os sinais dos tempos.
 
Se nos tempos do PREC a direita e a extrema-direita juntou mocas, caçadeiras, pilotos da Força Aérea Portuguesa e bombitas do ELP para pôr fim ao PREC, não causa admiração que agora que essa direita e extrema-direita volte a estar unida e a usar a crise financeira nacional e internacional para fazer mergulhar o país num PREC, desta vez de direita, o PCP reaja exactamente da mesma forma, endurecendo o discurso ideológico e unindo fileiras como se o país caminhasse para o confronto social.
 
Aquilo a que os portugueses estão sendo sujeitos já nada tem que ver com o memorando assinado com as organizações internacionais e muito menos com qualquer proposta ou debate eleitoral que tenha conduzido a um resultado eleitoral que deu lugar a este governo. O governo já não representa nada nem ninguém e em vez de governar em conformidade com aquilo em que os portugueses votaram, num momento em que já conheciam o memorando, este governo actua segundo uma agenda ideológica que resulta da mistura entre um certo neofascismo destilado em gabinetes de economistas ultra direitistas e imbecis que se formaram ideologicamente em debates de discoteca turvados com shots de vodka.
 
O país está vivendo um PREC conduzido pela direita e extrema direita e apoiados em incompetentes de organizações internacionais que falharam nas suas propostas e tentam agora salvar a sua face transformando um povo livre em gente miserável, e um país digno numa qualquer república das bananas. Aquilo a que Portugal está assistindo é à destruição de tudo que ao longo de anos foi adquirido como sendo a evolução social e a modernização do país, os portugueses assistem ao maior retrocesso civilizacional a que um país europeu já assistiu depois das epidemias de peste.

O retrocesso é tão grande que algumas das heranças do salazarismo já são tratadas como excessos do PREC, ainda veremos o PCP a defender instituições herdadas do corporativismo com o mesmo afinco com que defende a legislação laboral que há dois anos designava de direita. Aquilo que o governo tem feito em sectores como o das pensões, ou o que pretende fazer no ensino público deixaria Oliveira Salazar espantado com tanta violência.
 
A direita liberal, no fundo a direita fascista da ala liberal do regime está admirada e dividida entre a tentação de aproveitar a boleia da crise e o receio de que este PREC conduza o país a uma crise muito grave, senão mesmo a uma guerra civil. A ala liberal do regime de Passos Coelho e Gaspar sabe que este governo já morreu, que não vai ganhar eleições e que se Cavaco continuar a tratar Belém como um centro de dia para a terceira idade há um sério risco de o país ser conduzido a um golpe de Estado. Passos Coelho não pode usar a ameaça da troika para governar contra a vontade de todo um povo e para impingir um projecto ideológico de discoteca.
 
No meio empresarial, quem apoia Passos Coelho? São os banqueiros falhados que ao longo de 20 anos cobraram os juros que quiseram, acumularam lucros livres de impostos e agora sabe-se que geriram os seus bancos com tanta incompetência que estão á beira da falência, por isso são os apoiantes incondicionais desta sacanice, querem voltar a explorar todo um país e todo um povo para conforto dos seus accionistas e para continuar a beneficiar de prémios de gestão absurdos.
 
Transformada a democracia num PREC é cada vez mais provável que o poder caia num ambiente de excepção como, aliás, sucede com todos os PREC