Quem ouviu os discursos do último congresso do PCP sentiu-se
a fazer uma viagem de regresso ao passado, viu o contador do tempo recuar a
1975 e nem faltou a evocação de Álvaro Cunhal para criar um ambiente mais
realista. Mas acusar Jerónimo de Sousa de ser um ortodoxo porque depois de
décadas com o comunismo na gaveta ter voltado a ser um líder comunista digno
dos tempos da ex-URSS é ignorar que o líder do PCP mais não faz do que
acompanhar os sinais dos tempos.
Se nos tempos do PREC a direita e a extrema-direita juntou
mocas, caçadeiras, pilotos da Força Aérea Portuguesa e bombitas do ELP para pôr
fim ao PREC, não causa admiração que agora que essa direita e extrema-direita
volte a estar unida e a usar a crise financeira nacional e internacional para
fazer mergulhar o país num PREC, desta vez de direita, o PCP reaja exactamente
da mesma forma, endurecendo o discurso ideológico e unindo fileiras como se o
país caminhasse para o confronto social.
Aquilo a que os portugueses estão sendo sujeitos já nada tem
que ver com o memorando assinado com as organizações internacionais e muito
menos com qualquer proposta ou debate eleitoral que tenha conduzido a um
resultado eleitoral que deu lugar a este governo. O governo já não representa
nada nem ninguém e em vez de governar em conformidade com aquilo em que os
portugueses votaram, num momento em que já conheciam o memorando, este governo
actua segundo uma agenda ideológica que resulta da mistura entre um certo neofascismo
destilado em gabinetes de economistas ultra direitistas e imbecis que se
formaram ideologicamente em debates de discoteca turvados com shots de vodka.
O país está vivendo um PREC conduzido pela direita e extrema
direita e apoiados em incompetentes de organizações internacionais que falharam
nas suas propostas e tentam agora salvar a sua face transformando um povo livre
em gente miserável, e um país digno numa qualquer república das bananas. Aquilo
a que Portugal está assistindo é à destruição de tudo que ao longo de anos foi
adquirido como sendo a evolução social e a modernização do país, os portugueses
assistem ao maior retrocesso civilizacional a que um país europeu já assistiu
depois das epidemias de peste.
O retrocesso é tão grande que algumas das heranças do
salazarismo já são tratadas como excessos do PREC, ainda veremos o PCP a
defender instituições herdadas do corporativismo com o mesmo afinco com que
defende a legislação laboral que há dois anos designava de direita. Aquilo que
o governo tem feito em sectores como o das pensões, ou o que pretende fazer no
ensino público deixaria Oliveira Salazar espantado com tanta violência.
A direita liberal, no fundo a direita fascista da ala
liberal do regime está admirada e dividida entre a tentação de aproveitar a
boleia da crise e o receio de que este PREC conduza o país a uma crise muito
grave, senão mesmo a uma guerra civil. A ala liberal do regime de Passos Coelho
e Gaspar sabe que este governo já morreu, que não vai ganhar eleições e que se
Cavaco continuar a tratar Belém como um centro de dia para a terceira idade há
um sério risco de o país ser conduzido a um golpe de Estado. Passos Coelho não
pode usar a ameaça da troika para governar contra a vontade de todo um povo e
para impingir um projecto ideológico de discoteca.
No meio empresarial, quem apoia Passos Coelho? São os
banqueiros falhados que ao longo de 20 anos cobraram os juros que quiseram,
acumularam lucros livres de impostos e agora sabe-se que geriram os seus bancos
com tanta incompetência que estão á beira da falência, por isso são os apoiantes
incondicionais desta sacanice, querem voltar a explorar todo um país e todo um
povo para conforto dos seus accionistas e para continuar a beneficiar de
prémios de gestão absurdos.
Transformada a democracia num PREC é cada vez mais provável
que o poder caia num ambiente de excepção como, aliás, sucede com todos os PREC