Vivemos num tempo em que ser português parece significar ser
imbecil, diria mesmo que intelectualmente inimputável, é como se a falta de
dinheiro por parte do Estado tivesse dois efeitos estranhos, um imbecil que
pertença ao governo é promovido a sumidade intelectual e o cidadão comum
adquire o estatuto de idiota.
Há uns tempos atrás houve quem exigisse participar nas
negociações com a troika, quem escrevesse cartas à troika que antes de chegarem
aos destinatários estavam publicadas nos jornais, que alertavam a troika para a
existência de esqueletos no armário e, por fim, até exigiram a divulgação
pública do memorando e depois ainda fizeram uma grande alarido para que fosse
traduzido para português.
Agora tudo é diferente, o memorando tornou-se secreto, é
apresentado aos portugueses não como o resultado de uma negociação mas como uma
imposição do imperador Salassie e o primeiro-ministro vem depois sugerir aos
portugueses que lhe devem ficar eternamente gratos porque escolheu o limite
mais simpático de um qualquer intervalo. Um dia destes virá dizer que é o
melhor governante que tivemos porque o imperador Salassie defendeu que um
milhão de portugueses deveria ficar na miséria mas devemos reservar um lugar na
história de Portugal porque graças à sua intervenção desse milhão uns quinze
mil em vez de ficarem na miséria, ficaram remediados. Isto não é assim tão
ridículo, a imbecilidade tem a vantagem de eliminar os limites à criatividade e
quem acha que ser forçado a emigrar para conseguir ganhar para alimentar os
filhos é uma oportunidade na vida pode lembrar-se dos maiores disparates.
Há quem queira passar a ideia de que o país deixou de ter
governo, que os portugueses devem ser tratados como idiotas e os governantes
foram os eleitos para fazerem de porta-voz dos esbirros do imperador Salassie.
De repente deixaram de haver negociações, a concertação social deixou de
funcionar e o consenso político alargado passou a ser imposição política. O
imperador Salassie ordena, o governo comunica as decisões aos atrasados mentais
e a senhora Jonet conforta-os com os seus valores ideológicos dignos de uma
disciplina de economia do tempo em que as nossas meninas tinham um curso de “formação
feminina” no ensino secundário.
A democracia foi suspensa, os portugueses estão impedidos de
discutir o seu país e o seu futuro, o imperador Salassie até se dá ao luxo de
dar raspanetes a todo um povo e até os ameaça dizendo que se querem um Estado
social então que o paguem, o rapaz fala como se o empréstimo a Portugal tivesse
sido uma operação de ajuda alimentar, esquece que os hotéis de luxo que
frequenta e as mordomias em que vive são pagas com os juros altíssimos que Portugal
paga à troika e pelas chorudas comissões com que financia o imperador mais os
seus esbirros.
O senhor Salassie e os outros dois estarolas da troika estão
a ir longe demais, o memorando assinado entre Portugal e as organizações
internacionais não previa que fossem a seminários dizer postas de pescada, que
atribuíssem ao primeiro-ministro os poderes de um Pinochet e que transformassem
todo um povo num rebanho de imbecis.