Apegados aos valores do ruralismo, valores que representam
pureza, abnegação, capacidade de sacrifício, vida humilde e honesta, gente dura
como o clima, que cresceu na vida rude, que nunca foi poluída pelos pecados
citadinos, são assim os modelos de virtudes cultivadas por algumas das nossas
personagens. Tem sido assim desde esses modelo de nome Salazar, Cavaco Silva também soube explorar esta herança
do Estado Novo, Vítor Gaspar chegou a ser elogiado por ser o neto da avó
Prazeres, mulher cheio de bons princípios e crente a Deus, que bebeu as
virtudes nacionais na Serra da Estrela.
Mas nem é preciso que sejam brilhantes, até porque esse não
é o valor mais importante, que o diga Luís Filipe Menezes quando afirmou os
seus tiques grosseiros face aos “sulistas, elitistas e liberais” como Marcelo Rebelo
de Sousa. O que vale a inteligência ou o elitismo das grandes universidades
estrangeiras perante a honestidade, a verticalidade, a capacidade de sacrifício
pelo país do que comeram o pão que o diabo amassou?
Olhamos para ele e vemos aquela posse digna de um agricultor
que olha de frente para a tempestade que se aproxima, ou do pescador que fica
impávido quando a proa mergulha no mar. Um olhar firme, em cima de uns ombros
ligeiramente arqueado pelo peso dos seus valores. Não importa que seja bem-falante,
mas se enriquecer a sua linguagem com citações é prova de cultura, é quanto basta para dispensar o brilhantismo intelectual de outros.
Uma cultura conseguida com sacrifícios, calças remendadas,
sapatos na mão para os poupar, caminhadas sob sol e chuva a caminho de uma
escola distante, trabalhos de casa feitos à luz de um candeeiro a petróleo. Os
professores eram para respeitar e queixa aos país significavam castigos que
apuravam a dureza da vida, como sucedeu ao jovem Cavaco condenado a trabalhar
na horta.
É gente que não quer enriquecer, que compra tudo com
sacrifício, que trabalha anos sem férias, sem feriados e sem fins de semana,
com os filhos a serem educados por uma mulher de armas e dedicada ao homem que
Deus em boa hora lhe deu, gente que não tem dinheiro em contas bancárias de
terceiros, que não enriquece, que não ambicionam promoções, que tudo fazem em
nome da verdade e da dedicação ao país.
È desta massa que foram feitos alguns dos nossos políticos,
é esta a massa que todos os ambiciosos gostam de exibir para disfarçarem os
valores e qualidades que não têm, é esta a massa do ruralismo português tão
querida a uma certa direita que de salazarista passou a populista, são estes os
valores de uma certa extrema-direita portuguesa.