Recordo-me que o grande argumento para as suspeitas de corrupção no caso Freeport não foi um qualquer enriquecimento inesperado ou o recebimento de qualquer quantia por parte de um decisor. O grande indício de corrupção no caso do empreendimento de Alcochete era a forma célere com que o projecto tinha sido aprovado pelas autoridades do ambiente, daí que um dos arguidos tenha sido um director-geral responsável pelo sector. Primeiro foi arguido e depois é que foram em busca de provas.
Na ocasião os mesmos jornalistas que hoje se queixam da falta de investimento e de crescimento económico deram o argumento da celeridade como válido, ninguém se questionou sobre a anormalidade da situação, sobe o nível de doença mental dos que assim raciocinavam. Em Portugal um director-geral que se empenhe em que as suas decisões sejam céleres é, para os nossos magistrados, um suspeito de corrupção. Isto é, director-geral que queira ser considerado sério deve demorar na avaliação dos processos, pedir novos esclarecimentos meses depois, voltar a exigir documentos que perderam validade, exigir novos documentos, enfim, fazer tudo para que o processo seja moroso, sério e acima de qualquer suspeita.
Estamos, portanto, num país de doidos e idiotas, doidos os que acham que o país se desenvolve com magistrados e directores-gerais destes, de idiotas porque só um idiota acha que um investidor no seu pleno juízo se mete num país destes. Perguntem aos investidores do Freeport como se sentiram perante as investigações e se sugerem a outros investidores estrangeiros que se metam neste país.
Investir num país onde a mão-de-obra qualificada foge, onde um director-geral pode ser indiciado de corrupção só por ser competente, onde os tribunais não funcionam apesar dos magistrados ganharem acima da média, onde os concorrentes se escapam aos impostos, onde há sindicatos de magistrados a pediram ao antigo BES para patrocinarem e financiarem iniciativas em resorts de luxo, onde o partido suspeito é o que não tem dinheiro, não é uma decisão económica, é um acto de loucura.
Só paspalhões é que acham que os investidores estrangeiros estão à espera que o salário mínimo seja de menos dez euros mensais ou que o défice seja de 2,5% em vez de 2,6% para invadirem o país. É porque as nossas elites da treta da comunicação social pensam assim que o país anda a patinar há duas décadas. O problema do crescimento e do desenvolvimento económico é bem mais sério e não se fica apenas pelas análises do Conselho das Finanças Públicas.